Um suicídio ocorre no mundo a cada 40 segundos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Setembro Amarelo é a campanha que aborda a prevenção. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio anualmente, sendo a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos.
José Benedito Di Tullio, psicólogo, opinou o que considera necessário estabelecer para reduzir os casos. “Penso que a problemática do suicídio, tendo em vista a quantidade expressiva de casos, seja um problema de saúde pública, tanto assim, que deva ser um trabalho multidisciplinar e que envolta as esferas públicas e privadas. Tenho consciência que devam ser sempre os psiquiatras e os psicólogos os envolvidos diretamente, mas, não é o suficiente, pois, nem sempre os suicidas irão procurar ajuda com estes profissionais, por vezes, podem passar previamente por outros profissionais, por exemplo, um professor, que pode perceber que o seu aluno demonstra uma variação de humor, por menor que seja, ou até mesmo acentuada e dá o alerta aos familiares, ou encaminhamento para um profissional capacitado para ajuda-lo, por isso, o engajamento de todos os profissionais pode salvar vidas”, comentou José Benedito.
Referente aos motivos que levam uma pessoa a tentar contra a própria vida. “O que leva uma pessoa pelo caminho do suicídio não segue um esquema lógico, podendo variar de uma descompensação química/hormonal a uma insatisfação pessoal, assim como as dores e angustias de ser ele próprio, pois, muitas vezes quem se encontram nessa situação enxerga no suicídio uma forma de aliviar todos esses sentimentos reprimidos e que muitas vezes não se consegue colocar pra fora, ou compreender. A retirada da própria vida torna-se a maneira pela qual o indivíduo pensa poder diminuir seu sofrimento, acabar com sua dor psíquica”.
E se tem como pessoas próximas identificar um comportamento suicida. “Toda atenção é necessária, pois, mesmo ocorrendo nos mais diversos indivíduos, não podemos deixar de destacar que em uma pessoa próxima ao perceber qualquer alteração no humor, ou mesmo no comportamento, tanto euforia, quanto tristeza persistente ou isolamento deve ser observado com atenção, empatia e seriedade, sem sufocar, mas não deixando desamparado de assistência, acolhida e de escuta não punitiva”.
O psicólogo falou de que forma amigos e familiares podem contribuir com quem pensa ou já tentou tirar a própria vida. “A convivência com quem já pensou em suicídio deve ser empática e ausente de julgamentos, especialmente, aqueles “achismos”, preconceitos, ou estereótipos que menosprezam o sofrimento humano e foram sendo construídos ao longo dos tempos”.
Importância de procurar um profissional. “O suporte psíquico e o autoconhecimento são ferramentas importantes para que o indivíduo possa evitar prejuízos contra si e contra o outro, no entanto, os casos em que envolvam a propensão de atentar contra a própria vida, o primeiro passo deve ser a procura de um médico psiquiatra e este, após medicar o paciente, indicará um psicólogo que dará o suporte psíquico”.
Ainda observou como que a mídia deve ser utilizada para expandir a prevenção. “Penso que o trabalho seja sempre de prevenção e também de apoio, jamais deve ser de descriminação. Pois, geralmente aquele que cometeu suicídio já pensava, ou até mesmo foi planejando a realização do ato. Nossos olhos precisam estar atentos para todos aqueles que podem vir a cometer o ato e podem até já estar pensando nisto hoje”.
Ele orientou e citou alguns mitos comuns. “Assim sendo por vezes ouvimos dizer que “quem tem fé não atenta contra a própria vida”, mas sabemos que líderes religiosos são tão susceptíveis de tirarem a vida quanto alguém sem religião, “ele era tão amado” o sujeito é amado e ama muito, mas diante da dor que vive internamente acaba não suportando viver assim, e prefere morrer, “ele era tão alegre e feliz”, o indivíduo utilizava uma roupagem de alegria para mascarar a tristeza e angustia interna. Assim sendo, são diversos os mitos que se criam e na maioria das vezes são apenas obra de uma visão deturpada do suicídio, que em nada ajuda o sofrimento humano. Enfim, por não ter uma explicação clara e direta da origem desta enfermidade, suicídio, que muitos profissionais da área da saúde mental no passado destacaram alguns “tipos” suicidas, no entanto, percebemos hoje que isto pode acontecer em qualquer ambiente e com os mais diversos tipos de indivíduos, ou seja, devemos estar juntos e atentos em todos os campos da existência humana na prevenção ao suicídio, sem criar mitos, tipos, ou qualquer outra forma laica de explicar algo que é explicitamente humano e existencial”.
Mensagem para quem está depressivo e desestimulado com a situação de vida. “Caso você já tenha tido algum pensamento que tem desmotivado sua vontade de viver, tenha se sentido muito cansado e não tem visto saída pra sua vida, possa ter tido pensamentos recorrentes em tirar a própria vida, ou tão somente não vê mais sentido em viver. Não tenha vergonha, nem medo de ser julgado, aceite ajuda. Conte para um amigo, ou familiar de sua confiança, ou mesmo, por si só procure ajuda profissional. Muitas vezes quando estamos sofrendo e não temos com quem falar, achamos que nossos problemas, dores e angústias não terão fim e que uma hora a dor nos fará cometer uma atitude definitiva. Lutamos muito para que isso não aconteça, e ser forte todos os dias é difícil. Mas chegará o dia que tudo ficará mais simples e você poderá viver mais tranquilo, mas para isso você precisará confiar em alguém, comece com um passo de cada vez, a vida é muito bela, é só saber olhar pra ela com outros olhos, pois nem tudo está perdido, acredite”, observou o psicólogo.
Ajuda - O CVV, Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias.
Informações podem ser acessadas pelo https://www.cvv.org.br/.
Fabricio Barcos, integrante CVV de Bebedouro afirmou que em virtude da pandemia, a unidade em Bebedouro está inativa no momento. “Devido à pandemia estamos parados. A previsão para o retorno do CVV será quando isso melhorar. Esse problema de saúde pegou todos de surpresa e por isso tivemos que adiar a abertura do posto. Já temos uma primeira equipe de voluntários, mas a concretização da inauguração será no próximo ano”, concluiu Fabricio.