A vinda da pandemia deixa em evidência as ações dos profissionais de Saúde, e a Fonoaudiologia está entre as diversas especialidades. Para falar da atuação nesse período crítico, a Folha da Cidade conversou com a fonoaudióloga Patrícia Jacobs Iglessias.
Formada pela USP Bauru, ela conta com 24 anos de experiência em transtornos da comunicação oral e escrita, seleção e adaptação de aparelhos auditivos. “O Conselho Federal de Fonoaudiologia emitiu Resolução, mais especificamente, a de n° 19, de 19 de março de 2020, dispondo sobre orientações aos fonoaudiólogos para suspensão temporária dos atendimentos presenciais eletivos e que adotassem o exercício preferencialmente em Telessaúde. A Telessaúde é a prestação do serviço de saúde à distância por meio de tecnologia de informação e de comunicação, podendo ocorrer no setor público e privado”, disse Patrícia.
E lembrou que o exercício da Telessaúde no Brasil é regulamentado pelo Ministério da Saúde e em 27 de outubro de 2011, a portaria n° 2.546 ampliou o Programa Telessaúde Brasil, que passou a ser denominado Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes. “Na Fonoaudiologia, essa forma de atuação foi regulamentada pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia em março de 2013. No entanto, esta atividade era insólita, destacando-se um pouco mais na área da educação e no meio acadêmico”.
Ao considerar o cenário da Covid-19, a fonoaudióloga ressaltou que a Telessaúde pode ser realizada através da Teleconsulta, a qual é realizada à distância. E Telemonitoramento, o qual envolve o acompanhamento à distância de paciente atendido previamente de forma presencial. Nesta modalidade o fonoaudiólogo deve decidir sobre a necessidade de encontros presenciais para reavaliação, sempre que necessário, podendo o mesmo também ser feito, de comum acordo, por outro fonoaudiólogo local. “O fonoaudiólogo é o profissional da área da saúde que atua na promoção, prevenção, diagnóstico e tratamento da linguagem oral e escrita, voz, fluência (“gagueira”), audição, equilíbrio e funções orofaciais, como a mastigação, deglutição e respiração”.
O profissional tem formação e autonomia para determinar quais clientes podem ser atendidos ou acompanhados por Telessaúde, conforme ressaltou. “Esta decisão deve basear-se no benefício e segurança de seus clientes, sendo a maioria das patologias fonoaudiológicas compatíveis com esta forma de atuação, à exceção dos serviços de diagnóstico, sobretudo nos casos de avaliação auditiva e disfagia, no qual a dificuldade para deglutir alimentos ou mesmo saliva, pode colocar a vida do indivíduo em risco.
Patrícia enfatizou que a impraticabilidade da Telessaúde ocorre também para os procedimentos de seleção e adaptação inicial de aparelhos auditivos. “Contudo, uma vez feito à adaptação inicial, o seguimento do caso pode ser feito à distância, pois os recursos tecnológicos atuais dos aparelhos e dos softwares de programação já permitem a programação remota, conhecida como assistente telecare”.
Atendimento presencial e hospitalar - “No ambiente de clínicas e consultórios fonoaudiológicos, os atendimentos presenciais são realizados normalmente uma ou duas vez por semana, mas dependendo da patologia e gravidade do caso, o tratamento deve ser intensificado para três sessões semanais, ou até mesmo diariamente, como é o caso, por exemplo, da atuação fonoaudiológica com pacientes hospitalizados nas Unidades de Cuidados Intensivos, neonatal, pediátrica, adulto e idoso e Unidades de Clínica Médica, em enfermarias neonatal, pediátrica, adulto e idoso”.
Em relação à atuação profissional na reabilitação de um paciente confirmado com coronavírus. “A principal indicação de atendimento fonoaudiológico a pacientes com Coronavírus ocorre no ambiente hospitalar e UTIs, e tem relação com o manejo da disfagia e redução do risco de broncoaspiração, principalmente de indivíduos idosos e com comorbidades. No entanto, de acordo com o Comitê de Fonoaudiologia Braspen, para quaisquer casos suspeitos ou confirmados, deve ser analisada a pertinência da avaliação fonoaudiológica diante do quadro do paciente, privilegiando medidas preventivas de cuidado e de menor risco, sobretudo, não é recomendado o acompanhamento de pacientes intubados sob nenhuma hipótese”.
Prevenção - Patrícia afirmou que os cuidados que regem as boas práticas de atuação e higiene nos atendimentos presenciais norteados pelo Código de Ética da Fonoaudiologia e dos outros órgãos competentes como OMS, Ministério da Saúde e Anvisa, já faziam parte da sua rotina clínica. Todavia, diante do cenário da pandemia do Coronavírus, agente altamente contagioso, conforme recomendações dos órgãos sanitários, as medidas foram intensificadas. “Ao confirmar a consulta, o paciente é esclarecido que qualquer sintoma respiratório é impeditivo para o atendimento, mesmo que a suspeita seja uma rinite, por exemplo. Da mesma forma, se a profissional perceber algum sintoma ou estiver sob suspeita de contaminação, deve suspender imediatamente os atendimentos presenciais, além de procurar por avaliação médica e praticar o isolamento por 14 dias”.
Ainda na questão de prevenção, ela esclareceu que o trabalho é pautado para evitar aglomerações na sala de espera; uso de equipamentos de proteção individual, e higienização frequente das mãos. “Os atendimentos são realizados sob ventilação natural, sendo com janelas abertas, e ao final de cada sessão, todos os materiais em que houve contato do paciente, inclusive mobiliário, são higienizados com álcool 70% e aerossol de desinfetante spray, inclusive o ar da sala é vaporizado com esse desinfetante. Enfatizou sobre o uso de luvas durante a manipulação de cabeça e pescoço, face e da região intraoral do paciente, com descarte e troca imediata das mesmas”.
Sobre os testes e equipamentos audiológicos, considerou o revestimento interno das cabinas acústicas, uso de fones e aparelhos de amplificação sonora individual, sendo que as medidas de higienização adotadas seguem os critérios do Sistema de Conselhos de Fonoaudiologia pelo https://www.fonoaudiologia.org.br/cffa/index.php/2020/04/nota-orientativa/.
Pandemia - Ela descreveu que a atitude e procedimentos dos profissionais da saúde estão em destaque atualmente devido à pandemia de Coronavírus. “E a fonoaudiologia também está no centro deste combate, seja dentro dos hospitais com a necessidade de manejo da disfagia e redução do risco de broncoaspiração, seja nas clínicas e centros auditivos, prestando assistência para população portadora de alterações auditivas, agora impulsionada a procurar ajuda em função do agravamento da dificuldade em compreender a fala em decorrência da atenuação causada pelo uso das máscaras”.
A fonoaudióloga apontou que nesse cenário da pandemia houve em sua clínica, um aumento da demanda de pessoas buscando por avaliação dos problemas de audição e teste com aparelhos auditivos, sobretudo em função da maior dificuldade de compreensão da fala pelos portadores de perda auditiva em situações de uso de máscaras, as quais abafam e atenuam de maneira considerável a fala do interlocutor. “Além disso, elas impossibilitam a leitura labial, recurso indispensável para a melhoria da comunicação mesmo para pessoas que possuem perdas auditivas mais discretas”.
No que tange às “sequelas emocionais” secundárias à pandemia. “O zumbido, sintoma, por vezes incapacitante, também se acentuou neste período, uma vez que este distúrbio tende a se agravar em períodos de maior exigência emocional. Por conseguinte, houve um crescimento da procura por aparelhos auditivos, dispositivos capazes de “tratar” a perda auditiva e também o zumbido através dos modernos recursos de terapia sonora”.
Outros problemas auditivos se destacaram nos últimos meses, possivelmente acionados por gatilhos emocionais, sendo a hiperacusia, sensibilidade anormal a sons de intensidade baixa ou moderada, podendo causar desconforto incontrolável, irritação, e em alguns casos, dor; e a misofonia, percepção distorcida a alguns tipos de sons, que está diretamente relacionada ao significado do som, ou seja, uma pessoa pode apresentar hipersensibilidade ao ruído da mastigação, a latidos de cachorros ao longe, mas não se irritar com música alta.
E concluiu que uma das suas áreas de atuação, na qual seleção e adaptação de aparelhos auditivos se tornou um segmento essencial, assim como farmácias e supermercados, na qual prima por oferecer atendimento humanizado e seguro. “Contribuindo para melhorar a qualidade de vida dos pacientes em tempos de estresse, medo, incertezas e inseguranças”.