Já dizia Machado de Assis: “Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar”. No dia 12 de junho, enquanto os brasileiros comemoravam o dia dos namorados, os Estados Unidos estavam enlutados pela falta de amor. Um jovem entrou em uma boate voltada ao público LGBT e causou 50 mortes, além de ferir mais 53 pessoas. Ao que se especula, o ato pode ter sido resultado do ódio por outras formas de amar.
Independentemente da ligação do atirador a um grupo extremista, o que impera é a dificuldade em aceitar a diversidade, já que um grupo com os mesmos valores apenas reforça a empatia ou a aversão às diferenças. Essa discordância de opinião é a razão pela qual as pessoas buscam refúgio em seus mecanismos de defesa internos; a diferença se dá na forma como se protegem: uns assumem a posição de vítima, isolando-se, outros assumem a posição de agressores, agindo antes de serem atingidos.
Segurança e pertencimento são necessidades básicas, segundo a pirâmide de Maslow. Pertencer a um grupo implica comungar das mesmas ideias ou ao menos respeitar a dos colegas. Isso se amplia a relacionamentos. As pessoas buscam o outro, dentre outros motivos, para que possam sentir-se seguras, além de aceitas e, se possível, amadas. Tal afinidade acontece na sensação ilusória de segurança que o outro representa.
Sendo assim, o amor pode ser encontrado na afinidade de gostos, incertezas e fantasias entre duas pessoas, independentemente de gênero, raça ou classe social. O ódio, oposto do amor, pode ser visto na intolerância e falta de respeito apresentadas na forma de agressão física ou psicológica. A não aceitação de outros pontos de vista (que são aceitos por outros) leva à frustração e ao desequilíbrio interno pela falta de empatia e de respeito.
O medo do novo, a sensação de insegurança e de solidão podem falar mais alto quando não se consegue ver o que a maioria enxerga. Possivelmente, o jovem agrediu outros antes que pudesse ser agredido. A criação rígida, os valores aprendidos em sua cultura e os preconceitos advindos de gerações culminam no ato trágico relatado na mídia. Dentre todas as explicações e possíveis diagnósticos, o mais correto talvez seja que ele sofria da falta de empatia, o provável mal do século.
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Psicóloga - Renata Seren