Poesia: A prece lírica

Mais uma vez, desejo oferecer ao leitor a minha produção literária relativa aos últimos dias. Alguns desses poemas contêm versos curtos; outros, apenas um verso. Um dia me disse disseram: “São versos ligeiros”. Respondi: “Mas não ligeiros no sentido”.

Para que o leitor se depare com versos ligeiros, mas não de sentido, indico o poema “Rondó dos Cavalinhos”, de Manuel Bandeira.

Nele, constataremos que o gerúndio dos verbos, inteligentemente usado pelo poeta, é empregado para indicar a ligeireza da vida que passa.

Por outro lado, os poemas abaixo, escrevi-os com temas simples: amor, admiração, infância, erotismo suave, advertência, entre outras possibilidades para um poema. Então, vamos lá:

Um quê de eterno

Há um quê de eterno na manhã,

que a tarde toma emprestado e a noite,

soma das duas, toma posse.

Sinal fechado

Não é preciso chegar ao sinal

fechado quando se está

aberto ao amor.

Colhendo afetos

Na flor, as pétalas carnudas,

aveludadas, úmidas,

colhem afetos dos meus dedos, olhos e sentidos..

Bagagem

Naquelas malas, ela trouxe o

mundo para dentro de casa:

mares, nuvens, poentes,

latitudes, longitudes, a lua em todas as fases,

lugares que alguns só alcançam com a imaginação.

A lua e o barco

A lua e o barco à vela,

imóveis no quadro, se velam.

Mas também se movem: a lua, no céu da minha imaginação;

o barco, no liquido dos meus olhos.

Mar azul

Aquele mar azul, guardei-o,

inteiro, dentro de mim.

Por isso, quando foi embora,

rolaram lágrimas salgadas pela minha face.

Retinas

Pela fresta da minha janela,

você chega às minhas retinas.

Intrigado, não entendo como passa por ali e se acomoda nelas.

Realmente, não entendo.

Mas sinto muita poesia nessa minha incompreensão.

Ebulição

Nas velas, as chamas;

Entre as mãos, o recipiente;

Nele, o liquido quente;

Na cadeira, o calor do aconchego;

Na mulher, a temperatura de uma estrela

fervendo os liquidos de todas transpirações.

Decisão afetiva

A decisão afetiva, relativa a um começo,

deve acontecer com a libido em repouso.

Somente assim é possível tomar esse tipo de iniciativa,

com calma profunda e serenidade íntima.

Caso contrário, há o risco de se fazer uma aposta.

Nervo sacro

Com a mão sobre o nervo sacro,

que não tem nada a ver com nenhuma divindade,

e procurando o nervo da questão, pensou:

- Ao meu toque, pelo jeito, está com lesão.

Dançando, lembrou-se da aula de anatomia:

o sacro é um nervo da coluna vertebral em forma de triângulo.

Lesionado, provoca muita dor.

Meu mundo

Ainda não consegui viver no mundo que construí,

quando brincava com meus brinquedos.

Se ainda existe, não sei.

Mas não desisti dele.

No entanto, algumas vezes,

penso que não saiu de dentro de mim,

e o procuro lá fora.

Ou, então, ficou guardado no baú de brinquedos,

que não acho mais.

Poemas Registrado na Agência Brasileira do ISBN (International Standard Book Number)

Ministério da Cultura - Fundação Biblioteca Nacional, sob número 978-85-63853-54-7.