Para alguns, o prefácio de um livro é considerado um subgênero; para outros, um gênero textual. A sua definição mais clássica é a de um texto não muito longo que apresenta o livro ao leitor. Dessa forma, prepara-o para a leitura da obra. Esta, apesar disso, não deve se diluir totalmente no prefácio. Ele não deve ganhar autonomia.
Excluídas as menções na capa de um livro, creio que, provavelmente, não há na história da Literatura algo tão lido quanto o prefácio. Tanto quanto o leitor em formação, o mais experimentado também inicia a leitura por essa espécie de preâmbulo. Muitos param nele.
Há um artigo interessante, datado de 1965, escrito por Otto Maria Carpeaux (1900-1978), jornalista, ensaísta e crítico literário austríaco naturalizado brasileiro. Ele questiona a respeito da ausência do termo prefácio nos verbetes das enciclopédias de termos literários como nos das comuns. Nestas últimas, cita a Britannica, Larousse, Treccani, entre outras.
Por outro lado, “um livro a respeito do prefácio dificilmente será encontrado”, acrescenta o ensaísta. Decorrido o tempo necessário a partir da publicação do artigo de Carpeaux, atualmente, pelo menos nos guetos universitários, podemos encontrar pouca coisa a respeito.
Carpeaux exemplifica diversos tipos de prefácios. Entre eles: os prefácios-justificativas, prefácios-pedidos de desculpa, prefácios-desafios, prefácios-manifestos, prefácios-críticas, prefácios-sentenças. Mas cá entre nós: alguns deles são coisas de compadres. Ou seja, redigidos para dar fôlego à obra prefaciada ou, então, dependendo do status do prefaciador, abrir portas para o autor.
Pode até existir, mas nunca me deparei com um texto prefacial contendo algum comentário a respeito da capa de um livro. Um dos motivos pode ser que, muitas vezes, a capa ainda não está confeccionada, mas o prefácio já está concluído. Esse é um elemento redutor que gera a ausência dela no contexto desse tipo de texto.
A título de curiosidade, as capas brasileiras seguem o modelo americano: imagens e letras. Na França, por exemplo, a tradição é outra: colocam apenas o título e o nome do autor sobre um fundo que não contém imagem. A editora Gallimard, uma das mais tradicionais da França, segue essa estética. Apesar disso, esse costume começa a mudar. Num prefácio, alguma abordagem sobre a capa, a exemplo da citada neste parágrafo, seria bem-vinda para o leitor em formação.
s capas contam muitas coisas. Influenciados pela estética delas, muitos leitores compram livros. Nelas, com certeza, há uma conceituação do livro. Sintetizada, mas há. Um dos melhores capistas do mundo, o britânico David Pearson, afirma que “a capa ideal é aquela que não conta tudo”. Ela não pode estragar uma surpresa.
Enfim, o capista (design gráfico), aquele cara que faz a capa, transforma-a numa linguagem gráfica. João Baptista da Costa Aguiar, uma fera no assunto, concorda que a capa, de certo modo, além de proteger o conteúdo, revela. Mas acrescenta: “O livro é do autor e não do capista”.
Tai uma ótima definição que pode ser aplicada ao prefácio. Ou seja, o livro é do autor e não de quem elabora o prefácio. Essa é uma legitimação essencial.
Augusto Aguiar augusto-52@uol.com.br www.m-cultural.blogspot.com http://stilocidade.webnode.com