Alguns poemas

Colônia de nudismo

Dias antes,
cheia de pudores,
a bailarina recusou uma apresentação,
em uma Colônia de Nudismo.


Gavetas

Não gosto de abrir gavetas.
Nelas, há sempre algo guardado para as urgências.
Gosto de abrir as janelas,
e sentir a vida lá fora me chamar,
de um jeito inadiável.


Porres

Todos os porres chegam trancafiados dentro dos vasilhames.
No corpo, destrancam as inibições.


Trajeto

Mesmo que seja difícil,
não interrompa o trajeto.
Voltar pode ser o caminho mais longo.


Ângulo

Não há ângulo que não se curve,
à sensualidade da experiência.


Tarde em Itapuã

A tarde de Itapuã deveria começar pela manhã e nunca mais terminar.


Idade e sensualidade

idade é mera invenção do Registro Civil.
Sensualidade não passa por lá,
não tem nada a ver com Certidão de Nascimento.


Pelos e pele

Você surge pelos arrepios
dos pelos, da pele,
e aí tenho de ficar pelejando
para terminar a minha prece
antes de dormir.


Final de uma tarde de maio

Em ebulições turbulentas,
fora do tubo de ensaio,
dois corpos se abrasam
num final de tarde de maio.


Cúmplice, colando asas aos desejos,
a brisa sopra restos de espumas,
que escapam, uma por uma,
dos laços da linha do mar.


Cacho de uvas

No dorso da língua,
as uvas daquele cacho,
arrepiam as papilas,
de uma fêmea e de um macho.


Cascas de uvas,
esparramadas pelas bordas do pra,
parecem ouvir os ecos,
dos uivos da fêmea e do macho.


Poesia e Poema

Do encontro macho e fêmea
entre a Poesia e o Poema,
sinto a cada segundo
a expressões e gestos do mundo.


Créditos: livro Mosaico Literário: Poesias e Crônicas, autor Augusto Aguiar, registrado na Agência Brasileira do ISBN (International Standard Book Number) Ministério da Cultura - Fundação Biblioteca Nacional, sob número 978-85-63853-54-7.


Augusto Aguiar

augusto-52@uol.com.br
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