Morre Luiz Fernando de Oliveira: nosso Fernandinho do Banco do Brasil

Não tenho a pretensão de que este obituário se iguale aos do New York Times, os melhores do mundo neste gênero textual. Que, por sinal, biografam o obituariado. Tampouco aos dos jornais dos países anglo-saxões que também se utilizam da mesma estética.

Sendo assim, de um jeito mais simples, sem o glamour daqueles suportes de textos (jornais) citados, mas diante da imensa admiração que tinha por ele,   escrevo este texto  em memória do amigo Luiz Fernando de Oliveira, o Fernandinho (1956-2016), aposentado do Banco do Brasil. No entanto, dentro do meu coração, o seu status é para um obituário com as características dos que citei.  Quem o conheceu em profundidade sabe do caráter rico de sentido que possuía.


Estudamos no Paraíso Cavalcanti. Nas aulas de Educação Física, ministradas pelo professor Adhemar Carlos Berto, o uniforme era composto pelos seguintes itens:  camiseta regata branca, calção azul-marinho com sunga, meias brancas e os tênis escuros de cano alto. Após a física, o Fernandinho tirava a camiseta pra fora do calção (gesto que nunca me esqueço). Com isso, a sua estatura mediana dava a impressão de ter esticado um pouco. Seu irmão, o Nestor, também estudava no Paraíso. Ótimos tempos.

O Nestor, por exemplo, possuía a fisionomia de quem sempre estava rindo (reporto-me aos anos de 1966, 1967 etc.). Por outro lado, quem olhasse o Fernandinho, quer andando, quer parado, ficava com a impressão de que  ele sempre estava imerso em pensamentos profundos. Tai um detalhe que sempre me chamou a atenção. Apesar disso, possuía a alma leve: brincava, interagia de um jeito suave com todos.


Em 1991, após doze anos na condição de bebedourense ausente, retornei a Bebedouro  e o reencontrei integrando o capital humano do Banco do Brasil. Ali, exerceu várias funções.  Um cara de muita competência. Além do que, passava uma segurança incrível.

Era prazeroso conversar com ele. Não tinha pressa, dedicava atenção integral aos seus interlocutores. Aposentados, sempre nos víamos durante as suas caminhadas. Praticando essa atividade, muitas vezes, passava em frente à minha casa.

- Entra, vamos tomar um café. – intimava-o nessas ocasiões.

- Pode me esperar, virei sim. – respondia-me.

O tempo passava e ele sempre me prometendo que viria tomar um café.


Na segunda-feira, 13/06/16, dia de Santo Antônio (cujo nome original era Fernando),  por volta das 16h50min,  abri o portão social da minha casa. Moro na Rua Coronel João Manoel,  altura do Bar do Macarrão (localizado à Rua Brandão Veras). Naquele momento, O Luiz Fernando retomando o hábito das caminhadas interrompidas por um curto período passava em frente.


- E aí, Fernandinho, tudo bem? – saudei-o.

- Tudo bem, e você? – respondeu-me.

- Quer  tomar um café. – convidei-o.

Ele parou, apontou o dedo para o céu, e me disse:

- Hoje eu tomo.


Enquanto tomávamos o café, contou-me, inclusive, sobre a compra de um carro zero (acho que naquele dia). Havia ido a Barretos liberar uma documentação para a aquisição do veículo. No entanto, às 17h30min, eu tinha de buscar  meu filho no trabalho.


Disse-lhe:

- Vamos comigo buscar  meu filho.

E fomos até o Distrito Industrial I.  Na volta, pediu-me:

Deixe-me na esquina da escola Conrado Caldeira, vou concluir a caminhada. Despedimo-nos. Na quarta-feira, dia 15, chega a notícia do seu falecimento.

Sobre um mesmo fato haverá sempre visões diferentes. Apesar disso, na necrologia das minhas amizades, nunca vivenciei algo idêntico. O Fernandinho veio tomar o café e se despedir de mim.  É a sensação que fica. Sendo assim, a única alternativa que tenho é jogar a casualidade no cesto do lixo.


Augusto Aguiar

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