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Em 1955, o escritor José Lins do Rego ingressou na Academia Brasileira de Letras. No seu discurso de posse, referindo-se ao seu antecessor, comentou:

- Ataulfo de Paiva chegou ao Supremo Tribunal Federal sem ter sido um juiz sábio e à Academia sem nunca ter gostado de um poema.


Verdade ou não, esse tipo de abordagem é reprovável num ato solene. Note que, no caso acima, Zé Lins foi indelicado. A partir desse fato, a Academia interveio na questão: todo discurso de posse passaria por uma análise prévia.


Há alguns anos, numa cidade da minha região e, naquela época, na condição de integrante do capital humano dos Correios, ministrei uma palestra num clube considerado uma das forças vivas da sociedade. Não estavam previstas perguntas, mas surgiram e delicadamente as respondi.


De repente, estimulado por umas cervejinhas a mais, um senhor, juiz de direito recém-aposentado, perguntou-me:

-O que significa a palavra Correios?

A transcrição da pergunta não denota a expressão fisionômica maliciosa do seu autor. Era como se me dissesse:

-Te peguei. E agora?


Para essa pergunta, há duas respostas. Caso omitisse uma delas, ele exploraria esse espaço vazio. Em seguida, respondi:

- Etimologicamente, a palavra Correios significa andar depressa, acelerado. Por outro lado, na condição de pessoa jurídica, é a empresa pública detentora do monopólio dos serviços postais e telegráficos no Brasil.


E acrescentei:

- Em 1961, época do governo de Jânio Quadros, cursava o primeiro ano primário e a professora já nos dava noções elementares da etimologia das palavras. Em primeiro lugar na escola; depois, nos Correios, aprendi o significado dessa palavra.


Ocorreu, então, o inesperado. Lembrei-me do professor Reinaldo Polito, destacado especialista no ensino da expressão verbal, cujo CD, anexo a um dos seus livros, traz um pronunciamento de Jânio Quadros, orador habilidoso. Isso era tudo que eu precisava.


- Já que mencionei Jânio Quadros, vou contar uma história rápida. – disse aos presentes.

- Certa vez, ele ministrava uma conferência em uma das faculdades de São Paulo – fui relatando – quando um aluno o interrompeu:

- Você conhece Benjamin Franklin?

Jânio respondeu:

- Não, não conheço o inventor do para-raios. Conheço o Benjamin Franklin orador, filósofo, diplomata, estadista. Pois bem, ele certa vez disse com muita propriedade: “A intimidade produz aborrecimentos e filhos”. E com o senhor não desejo nem uma coisa nem outra.

Todos riram, menos o juiz (Por quê?). Ou melhor, o ex-juiz.


Augusto Aguiar

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