A fração pagã do Segundo-Reinado

Há fatos que, de uma forma inegável, contrariam os preceitos da historiografia, ou seja, aquele negócio de que a História tem de ser documental. Muitos deles fogem à regra e sobrevivem como se tivessem força de lei. De relato em relato, vão seguindo em frente. Até certo ponto, os desta crônica, por exemplo.


Na Corte, D. Pedro II foi ator de alguns adultérios. Eles foram escritos apenas nos livros apócrifos do Segundo Reinado. Posteriormente, os fatos saltaram para a memória histórica, mas não aparecerem como contra discurso nos livros didáticos. Nem vão aparecer.


- D. Pedro II foi adúltero, será? Não seria D. Pedro I, o pai? – pode pensar o leitor.

- Respire! Não seja um leitor desconfiado. A história não está muito clara, mas vai ficar. Sou um cara que não dissimula, continue lendo o texto. – é a minha sugestão.


Casado com a princesa italiana Teresa Cristina, D. Pedro II viveu um relacionamento com Maria Eugênia Lopes de Paiva, filha do barão de Maranguape. Depois, engatou um envolvimento com Carolina Bregaro, mulher de um meio-irmão, filho bastardo de D. Pedro I. Finalmente, capitulou diante de Luísa Margarida Portugal e Barros, a Condessa de Barral, com quem se relacionou até o final da vida dela (morreu um ano antes dele).


Os adultérios teriam sido divulgados pela boateira da Corte, admitiam alguns. "Coisas da Tudinha" - Gertrudes nas ocasiões formais - diziam. Ela era dama na Corte, mas boateira por vocação. Uma mulher sem reservas e generosa em todos os atos que praticava, mesmo que fossem imorais. Viveu entre o Primeiro e Segundo Reinado.


Quando nasceu, não existia Registro Civil, a sua certidão de nascimento foi lavrada numa sacristia. Neste local, as crianças eram batizadas e registradas. A Igreja acumulava essas funções. Eis o que alguns livros de História, ao abordarem o tema, dizem: "Ser brasileiro era ser católico". Somente a partir de 1874 foi regulamentado – tal qual é hoje, o Registro Civil.


O batismo e o registro foram a únicas participações dela na Igreja. Viveu a vida num altar pagão. Neste tipo de altar, D. Pedro II, embora fosse D. Pedro II, fisionomia de santo, praticou alguns “rituais pagãos”. Alguns, não. Muitos!

A Historiografia deve ser documental, não deve? “Como seria bom se estivéssemos juntos no seu quartinho em Roma...” – escreveu D. Pedro II para a Condessa de Barral. A carta está arquivada no Museu Imperial.


Os boatos podem ser verdadeiros ou falsos. Diante disso, quando a carta veio a público, a Corte – caso ainda existisse - teria de admitir que os boatos atribuídos a Tudinha eram verdadeiros.

Ela, com certeza, diria:

- A história do Segundo-Reinado é apenas parcialmente coerente.

A par da carta, recentemente Tudinha psicografou uma mensagem através da qual mandou um recado:

-Se fosse hoje, ia lascar uma ação por calúnia e difamação.


Augusto Aguiar

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