Afinal, o que é poesia? A minha resposta, salvo raras exceções, não será no contexto de um padrão técnico de expressão, mas desvinculada das definições tradicionais, acadêmicas e das chancelas intelectuais. Resumindo, poesia é o meu jeito de viver. Sendo assim, essa vivência empresta-me os temas para compor os poemas, estes porta-vozes das minhas emoções. Ora escrevo-os num tom de "autobiografia poética", ora de "autoficção poética".
Algumas vezes, eles vestem-se com uma poesia sensual, versos abusados, palavras quentes, soltas, levadas, marotas. Outras vezes, tocam a leveza do erotismo refinado.
Antes, porém, um esclarecimento: Nada imoral, tá. Não vá me dizer:
"- Poemas eróticos não gosto, tô fora!". Antes de conceituar, leia estes dois:
As Minhas Retinas
As minhas retinas refletem a tua imagem invertida.
Retinas conservadoras, não me dão a esperança do teu vestido cair.
Sussurro Interior
Ao meu toque, a tua maturidade de interpretação sussurra-me a tua íntima transpiração.
Noutras ocasiões, a rebeldia se assanha, protesta, transgride, espalha versos no ar. Vejamos, então:
Transgressões: Ano de 1968
Adolescência: aulas, uniforme incompleto
Disciplinas: Português, Religião (Orações "Insubordinadas")
Recreio: bobagens na lousa
Prova: flagrado colando, expulso da sala.
Na rua: a mulher madura
Quem transgrediu foi a minha admiração.
Se , de um lado , há poemas sensuais e rebeldes, por outro , a tristeza invade os versos, o semblante do poema entristece, a sonoridade da rima fica chorosa. Assim, por exemplo:
Esperança
A dor era visível nos olhos do menino,
um brinquedo balançava entre os dedos pequeninos.
O seu olhar esperto vinha em minha direção
e num dialeto secreto tocava a minha emoção.
Fiz o poema no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. No colo da mãe, o menino olhava-me. Num diálogo silencioso, tendo como suporte nossos olhares cúmplices, conversamos sobre as nossas dores físicas. Nesse tipo de diálogo, disse-lhe:
"- Um dia, haverá a quimioprevenção. Aí, não teremos mais dores; nem eu, nem você. Ou então, nenhum dos nossos. Por enquanto, vivemos realidades (Não) tão diferentes.
Façamos, então, um pacto: incurável é a poesia que devemos sentir pela vida".
Como se percebe desde o início, a poesia é o meu jeito de viver. Talvez nesta crônica fique mais claro, então, porque costumo dizer: "Jogo a vida na poesia".
Augusto Aguiar augusto-52@uol.com.br www.m-cultural.blogspot.com http://stilocidade.webnode.com