As Histórias do Motinha
Motinha, um brasileiro em tempo integral, ocupará este espaço nas edições deste mês.
É um personagem de ficção, mas as suas histórias transitam pelo cotidiano de todos nós. Caricatura do brasileiro comum, homem das ruas, toca a vida num tom informal e propõe um humor refinado. Algumas vezes, lírico. Ele não é o outro lado do autor, mas este sempre colabora com alguma experiência vivenciada. Vamos, portanto, conhecê-lo:
Motinha e o Divã de Freud
Na banca de revistas, Motinha encontrou o amigo Fernando. Este comprou uma revista com Freud e o seu inseparável charuto na capa.
- Fumava demais esse cidadão - disse Motinha.
- Foi o pai da Psicanálise - esclareceu Fernando.
- Pensei - brincou Motinha - que Psicanálise fosse a marca dos charutos.
- Não !!! É um método psicoterápico - explicou o interlocutor rindo.
- Mas cá entre nós, emendou Motinha: na época, o homem foi o garoto-propaganda com custo zero para a indústria de charutos.
Fernando disse:
- Freud, através da Psicanálise fez nascer a cura pela fala. No seu consultório, havia um divã no qual os pacientes deitavam-se durante as sessões de Psicanálise.
- Mas se a cura era pela fala, qual a necessidade do paciente deitar-se no divã? Nesse processo de terapia, pelo que entendo - ponderou Motinha -não havia o contato físico.
- Divã, palavra de origem persa, significa o lugar da fala. O de Freud era coberto por um tapete persa e almofadas de veludo. Um luxo, não há dúvidas. Mas a finalidade principal - garantiu Fernando -era deixar o paciente mais relaxado, sem tantas defesas e resistências. Nessas condições, ele se abria mais com Freud. Este pedia ao paciente que contasse tudo o que pensava e o paciente deixava a censura de lado. Na maioria das vezes, claro.
Acrescentou:
- Na época ele foi chamado o Colombo do Espírito.
- Não seria melhor chamá-lo de o Colombo da Mente, fica mais científico - retrucou Motinha.
- Concordo, Motinha - disse Fernando. No entanto, naquele tempo, a terminologia era essa: Colombo do Espírito.
- Freud era uma fera - definiu Motinha.
- Deu pra entender ? - perguntou Fernando.
- Sim, claro. No tribunal do júri, se instalassem o divã de Freud para os réus, tudo ficaria melhor. Eles relaxariam, ficariam desarmados das defesas e resistências e confessariam tudo, sem nenhuma autocensura. Além disso, pelas técnicas da Psicanálise, não estariam falando frente a frente com ninguém. No entanto, se isso acontecesse, haja delação premiada. - finalizou Motinha.
Augusto Aguiar augusto-52@uol.com.br www.m-cultural.blogspot.com http://stilocidade.webnode.com