No dia primeiro de setembro de 2014, por volta das seis horas da manhã, um familiar e eu trafegávamos pela Avenida do Café em direção ao Hospital das Clínicas USP - Campus Universitário - Ribeirão Preto. Nesse trajeto, fomos abordados por dois motociclistas que anunciaram o assalto. Sinalizei que estava tudo bem; em seguida, disponibilizamos os celulares, bolsas e outros utensílios.
Eles disseram:
- Água, água, água! Só queremos as garrafas d'água.
- E os celulares, dinheiro? - perguntei.
- Isso o incomoda? - disse um deles.
- Pode levar tudo. - respondi.
- Podemos, mas não queremos. Apenas água, água! - repetiu.
De repente, um deles gritou:
- Água e a camiseta, só isso.
Tirei e entreguei a camiseta. Ela tinha uma estampa com a fórmula da molécula da água: H2O. Depois que tudo passou, eu disse a meu familiar:
- Com o que vem pela frente, de sede eles não morrerão.
Quando já estava na USP, senti muita sede. Os exames prescreviam jejum e não pude tomar água. Não retornei a Bebedouro, os laudos das imagens recomendaram minha internação. Sendo assim, fiquei guardado durante três semanas.
No dia de minha alta, meu amigo defunteiro, Ângelo Rafael Latorre D'Óleo, ligou para minha esposa a fim de saber demeu estado de saúde. Disse assim:
- Comadre, como está o Guto? - e deu risada.
Ela o informou a respeito de minha alta e que estava indo me buscar.
- Estou em Ribeirão Preto, pode deixar que pego ele no hospital. - disse.
Quando chegou ao Hospital das Clínicas, estacionou o carro na área reservada à recepção e avisou:
- Vim buscar um paciente que estava internado aqui, chama-se Augusto Aguiar. Passaram-se quarenta minutos e eu não aparecia. Então, o Ângelo abordou novamente o recepcionista:
- Queridooooo, está demorando muito. O negócio é chegar, pegar e ir embora.
- O corpo ainda não chegou ao necrotério. Até o senhor ser chamado, pode estacionar o carro da funerária noutro local. - disse o recepcionista.
Por fim, quando desci do 10º andar, assim que me viuo Ângelo teve esta reação:
- Quá-quá - quá. Gutooooooooooo, vim te buscar.
Pode uma coisa dessas? Além disso, o leitor não imagina o tumulto queele provocava na vizinhança quando - durante os quatro anos que estive acamado - me visitava, mas ia em casa com o carro da funerária. Na primeira vez, ao chegar do supermercado, minha esposa, diante daquele tumulto, precisou tomar água com açúcar. Meu Deus!!!
Augusto Aguiar augusto-52@uol.com.br www.m-cultural.blogspot.com http://stilocidade.webnode.com