Bailes aos sábados. Depois dos bailes, deixávamos as amigas em suas casas. Ou melhor, perto das suas casas.
Em seguida, antes do sol nascer, íamos roubar pães nas varandas e comê-los no banco da praça: rindo, cantando, brincando.
Nessas ocasiões, meus amigos e eu conversávamos com os bustos, estátuas e hermas das praças; demonstrávamos uma coragem que em vida as personagens nunca se depararam.
Diante da estátua do Barão do Rio Branco, por exemplo.
- Este é o Juca. - gritava o Joaquim.
Todos riam, rolavam na grama e acrescentavam:
- Que nada, esse é o José Maria Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco.
- Ele mesmo, acrescenta Joaquim - mas em família e no círculo de amizades era chamado de Juca. Ou então, Paranhos Júnior.
Joaquim fazia micagens para a turma. Mais risadas.
- É o símbolo da diplomacia brasileira. Seu pai foi o Visconde do Rio Branco. - explicava num discurso engraçado.
- Contrariando a vontade do pai e do Imperador, não foi ele que se casou com uma atriz belga? - perguntou alguém do grupo.
- Ele mesmo. - respondeu Joaquim.
Em seguida, segurou as bochechas do Barão, apertou-as como se fossem flácidas - e disse:
- Fez bem, Barão.
Todos riram novamente, bateram palmas e carregaram Joaquim nos ombros.
Lá na frente, a vida nos esperava com mais seriedade.
Nunca mais roubei um pãozinho, mesmo indo a muitos bailes. E nunca achei ruim, quando, anos mais tarde, os rapazes, depois dos bailes, roubavam os pães da minha varanda.
Augusto Aguiar augusto-52@uol.com.br www.m-cultural.blogspot.com http://stilocidade.webnode.com