Eliane de Vito Ferreira Penna, por intenção de seus pais; dona Eliane, por uma simplificação da vida no exercício do magistério, foi, na década de 60, outro destaque na galeria dos professores do Instituto Estadual de Educação Dr. Paraíso Cavalcanti, nosso ginásio.
De forma natural, tinha absoluta liderança na condução de seus alunos. Jamais vi-a chamar a atenção de algum deles. Chegava, fazia a chamada relativa à presença e, em seguida, explicava a matéria. E de um jeito tão gostoso que cativava todos nós. No final da aula, passava-nos o questionário relativo ao tema abordado.
Destituído de qualquer intenção de autopromover-me, ouvi dela que os meus questionários eram os mais caprichados. Por quê? Porque eu ilustrava cada resposta com uma figura pertinente ao tema. Preocupada, perguntou-me: “Você está recortando as figuras e, porventura, estragando alguns livros?” Respondi que não, mas estava. Ela sorriu apenas com os lábios, sabia que eu mentia. Sentiu que tudo aquilo fascinava-me, que eu apostava todas as fichas do meu entusiasmo no seu método de ensino, na disciplina de História. Até hoje, pertenço à família espiritual dos métodos de ensino que ela utilizava. Na disciplina de História, dona Eliane fez de mim um aluno em ebulição. Ainda guardo os livros que ela adotou naquela época.
Certa vez, no início do ano, fui fazer minha matrícula. Estranhei que ela estivesse na secretaria da escola atendendo os alunos para essa finalidade. As matrículas contemplavam uma época de pico para qualquer escola. Solidária e espontaneamente, ela estava lá dando uma mãozinha para o senhor Almo Lessa e os demais integrantes da secretaria.
Na minha vez, a certa altura, perguntou meu endereço. Respondi: “Rua Quintino Bocaiúva.” Um aluno às minhas costas debochou: “Onde fica isso, meu Deus? Nunca ouvi esse nome." Naquela época era conhecida como Rua Boiadeira, não era asfaltada. O asfalto terminava ali na Rua Duque de Caxias, na altura da residência do senhor Alberto Vicente, pai do Ado. Que, por sinal, foi uma das primeiras casas com piscina de Bebedouro.
Percebi que ela sentiu que era preciso pôr os pingos nos is. Com a sutileza que lhe era característica, deu uma aula sobre o republicano Quintino Bocaiúva. No final, o aluno quis conhecer minha rua. Apresentei-a a ele.
Com o dom de ensinar, ela foi um elo entre aquele aluno e eu. Dependendo da continuidade da brincadeira, poderíamos nos tornar polos incomunicáveis.