Ninguém vive o que prega

Ninguém vive o que prega I (Cristiane Brasil)

Devido aos péssimos antecedentes na condição de empregadora, caso tome posse no cargo de ministra do Trabalho, Cristiane Brasil, filha do ex-deputado Roberto Jefferson, levará os brasileiros e a opinião internacional a pensarem assim: moralmente, o Brasil acabou.

Ao invés de deixar a decisão para a Justiça, o presidente da República poderia ter revogado a nomeação. Não adotando essa postura, faz uma genuflexão (ajoelha-se) diante da força de uma legenda ou do dono dela, Roberto Jefferson. Este ainda assusta muitos políticos. A exemplo de todas nomeações, a de Cristiane Brasil é uma nomeação política, fruto de conchavos.


O ex-deputado Roberto Jefferson afirmou que a nomeação da filha resgata a honra da família, Que honra? Resgata-se a honra quando o cidadão recebe uma condenação injusta. No seu caso, Roberto Jefferson, você foi condenado e admitiu a culpa. Ou não?


Ninguém vive o que prega II (Henrique Meirelles, o predador)

Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, precisa entender que a Reforma da Previdência, apesar de necessária, não deve repassar prejuízos aos beneficiários do I.N.S.S.

Nos países avançados, uma viúva, por exemplo, recebe a pensão por morte de forma proporcional. Mas lá, ela tem consulta médica, de forma imediata, patrocinada pelo estado. Idem para exames e medicamentos de toda natureza etc. Aqui, conheço gente que espera uma consulta há meses. No Brasil, os remédios que a população tem direito faltam nas farmácias do governo.

As raízes de nossa inflação são diferentes dos países avançados com os quais Meirelles quer alinhar as novas regras. Para desonerar os gastos com a Previdência, o ministro da Fazenda deveria dar o exemplo. E qual seria o exemplo? Então, vejamos:

Na condição de ministro, presta um serviço ao país É remunerado por isso. Convive com mordomias. No exercício das atribuições de seu cargo, não corre riscos de vida. O máximo que pode acontecer com ele é contrair um resfriado por causa do ar condicionado de seu gabinete de trabalho ou do carro luxuoso que a União disponibiliza (com motorista, claro) àqueles que exercem esse tipo de cargo.

Os jovens que fazem o Serviço Militar também prestam serviços ao país, mas não são remunerados. Os atiradores do Tiro de Guerra, por exemplo. Os praças do Exército que prestam o Serviço Militar nos quartéis vivem a possibilidade de colocarem em risco suas vidas (uma eventual guerra, por exemplo). Ou, então, num confronto com criminosos como acontece em alguns estados. Ou, ainda, quando adquirem doenças crônicas pelas incursões em selvas etc.


Em 2008, o Supremo Tribunal Federal emitiu parecer que não é inconstitucional o pagamento de menos de um salário mínimo aos recrutas que servem o exército, Os ministros acompanharam o voto do relator, Ricardo Lewandowski, que considerou que “praças que prestam serviço militar inicial obrigatório não tinham, como não têm, o direito a remuneração, pelo menos equivalente, ao salário mínimo em vigor, afigurando-se juridicamente inviável classificá-los, por extensão, como trabalhadores na acepção que o inciso IV do artigo 7º da Carta Magna empresta ao conceito”.

O relator lembrou, ainda, que “os militares se submetem a um regime jurídico próprio que não se configura com os servidores públicos civis”, fato que, segundo ele, "nem os constituintes originários nem os derivados animaram-se em fazê-lo ao editar a Emenda Constitucional n.º 19 de 1998”.


E aí, Meirelles. Por que não assume a postura daqueles que servem ao país gratuitamente? Ou daqueles que, cumprindo a mesma obrigação, o fazem quase que gratuitamente (menos de uma salário mínimo).


Augusto Aguiar

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