Em 1994, o crítico literário Wilson Martins (1921-2010) concedeu entrevista ao escritor José Castello, publicada na Revista Agulha, através da qual expõe as suas impressões a respeito de Paulo Coelho:
"Grande parte de seus sucesso, é verdade, não passa de um efeito de marketing. Mas não se pode reduzir as coisas a isso. Seus livros respondem a uma necessidade espiritual, que não é apenas brasileira, mas universal, tanto que seus romances se tornam sucesso de venda em todas as partes do planeta.
Paulo Coelho é autor de uma literatura que não faz pensar, ela apenas confirma aquilo de que os leitores já estavam convencidos antes de abrir o livro. Todos os livros de misticismo vendem muito bem. Paulo Coelho talvez tenha estourado por ter sido o pioneiro. Além disso, ele era roqueiro e parceiro de Raul Seixas. E, se você ouvir com cuidado, verá que a música de Raul Seixas é um pouco simétrica à literatura de Paulo Coelho.
Os livros de Paulo Coelho nos dão sempre a impressão de que ele possui um segredo que não pode ser comunicado a ninguém. Mas você não pode entender a literatura de um país sem levar em conta os fenômenos como ele. O Brasil é Rui Barbosa, é Euclides da Cunha, mas é também Paulo Coelho.
Não podemos desprezá-lo como algo insignificante. Não sou leitor de seus livros nem seu admirador, mas ele deve ser aceito como um dado da vida brasileira contemporânea.
Ele não acrescentou absolutamente nada à nossa vida intelectual; mas abriu uma janela mística na qual muitas pessoas se espelham. Não devemos desdenhá-lo. Paulo Coelho é um fenômeno muito brasileiro".
Na mesma entrevista, quando perguntado a respeito do sucesso dos livros de auto-ajuda e misticismo, comenta:
"Há essa literatura de qualidade duvidosa que se baseia na auto-ajuda e no misticismo. Os livros de auto-ajuda são enganadores, porque só iludem o leitor. Os livros de misticismo, por sua vez, agravam a tendência mística dos brasileiros, que é maléfica. O brasileiro está sempe esperando que seus problemas sejam resolvidos pelo sobrenatural. Há uma crença nacional no milagre, que só vem reforçar nossa tendência à evasão. É com essa crença que a literatura mística trabalha".
Augusto Aguiar augusto-52@uol.com.br www.m-cultural.blogspot.com http://stilocidade.webnode.com