De uma hora pra outra, Renunciar, verbo transitivo direto e indireto, muito pouco conjugado, voltou com toda força ao cenário sócio-político federal, de forma sempre traumática. Exemplos nunca faltaram: A renúncia de Fernando Collor não foi suficiente para livrá-lo da cassação de mandato pois o Senado tratou logo de defenestrá-lo. Dom Pedro I renunciou com um discurso solene e melancólico: "usando do direito que a Constituição me concede, declaro que tenho muito voluntariamente abdicado na pessoa de meu muito amado e prezado filho, o Senhor D. Pedro de Alcântara. Boa Vista, 7 de abril de mil oitocentos e trinta e um, décimo da Independência e do Império."
O Príncipe de Galles renunciou ao trono para casar com uma plebéia. Com poucos meses de reinado, causou uma crise constitucional ao propor casamento à Wallis Simpson, uma socialite americana divorciada do primeiro marido e em vias de se divorciar do segundo. Os primeiros-ministros do Reino Unido eram contrários ao casamento, argumentando que se esse casamento fosse consumado, entraria em conflito com o seu status de Governador Supremo da Igreja da Inglaterra que proibia o casamento de pessoas divorciadas enquanto seus ex-cônjuges ainda estivessem vivos. Após sua abdicação, foi-lhe concedido o título de Duque de Windsor. Casou-se com Wallis na França, em 3 de junho de 1937, após a confirmação do seu segundo divórcio.
A carta renúncia de Jânio Quadros foi divulgada no dia 25 de agosto de 1961. Muitos dizem que a sua renúncia foi a tentativa fracassada de um autogolpe. O ex-presidente confessou, em 1992, que a renúncia foi apenas um blefe.
A Carta Testamento de Getúlio Vargas foi teatral e dramática: Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.
A Presidenta, não deveria tomar como exemplo, nenhuma dessas renúncias prolixas e melodramáticas, deveria sim, como de costume, atuar sem muitas delongas e prolegômenos. Um bom exemplo a ser seguido seria botar no seu toca-discos o quinto LP, o primeiro em 12 polegadas, de Nelson Gonçalves, um grande cantor e o maior boêmio do mundo cantando o foxtrote Renúncia: Hoje não existe nada mais entre nós, já sofremos tanto que é melhor renunciar. A minha renúncia enche-me a alma e o coração de tédio. Difícil no amor é saber renunciar.E depois plagiar às avessas, a declaração feita por D.Pedro I: Se é pra a felicidade da nação diga ao povo que não fico.