Conclusões de uma realidade

Todos nós estamos envolvidos em dois planos ou projetos existenciais: o plano humano que, consciente ou inconscientemente, todos temos, seja particular ou comunitariamente, e o plano divino, que nem sempre corresponde aos nossos projetos.

Assim sendo, temos a ordem natural das coisas, que nem sempre é absoluta e, dentro dessa ordem, destacamos a vida e a morte, seu começo e fim, o que plantamos e o que colhemos.

Quem pode determinar o início, a continuidade e o fim de uma vida? Quem tem o poder de marcar a hora exata e as condições de nossa morte? Tudo o que plantamos nós colhemos? Quantas surpresas e decepções no percurso da semeadura e da colheita!? Querendo ou não, aceitando ou nos revoltando, temos que admitir que somos apenas administradores de nossa realidade e não “donos da situação”.

Estamos nas mãos de Deus, que nos fornece a matéria prima, os instrumentos e a capacidade de realização.

Dentro desse contexto, achei por bem transcrever uma matéria muito oportuna de autoria do poeta, cantor e pensador hodierno Vinícius de Moraes.

Curta, caro leitor, a mensagem simples, porém profunda do nosso saudoso poeta:

“Se eu morrer antes de você, faça-me um favor, chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado.

Se não quiser chorar, não chore.

Se não conseguir chorar, não se preocupe.

Se tiver vontade de rir, ria.

Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente a sua versão.

Se me elogiarem demais, corrija o exagero.

Se me criticarem demais, defenda-me.

Se me quiserem fazer um santo, só porque eu morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam.

Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo.

Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles.

Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus, e eu ouvirei.

Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde eu estiver.

E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase: Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!

Aí, então, derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal, outros amigos farão isso no meu lugar.

E, vendo-me bem substituído, irei cuidar da minha nova tarefa no céu. Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele.

E quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou pra Ele.

Você acredita nessas coisas? Sim?

Então ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia.

E que morramos como quem soube viver direito.

Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura, aqui mesmo, o seu começo. Eu não vou estranhar o céu... Sabe por quê?

Porque ser seu amigo já é um pedaço dele!”

 

Cônego Pedro Paulo Scannavino

Paróquia São João. Batista

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