Casamento: fusão de duas metades?

Neste Mês Vocacional, vamos destacar também a constituição da família, berço de todas as vocações e tão importante para a construção de uma sociedade mais sadia e mais solidária.

A ideia que se tem da fusão romântica entre duas pessoas que se apaixonam e se completam não é verdadeira.

Quando falamos em afeto conjugal, estamos acostumados a ouvir que o homem é um ser incompleto, como se fosse a metade de uma laranja em busca de sua outra metade. Ou que é uma panela tentando encontrar a sua respectiva tampa. Isso não passa de folclore. São afirmações com as quais vamos nos acostumando, mas que não correspondem à realidade. Deus não criou o ser humano incompleto ou desfalcado, mas inteiro. Se no decorrer da existência o homem tem “vazios existenciais” é porque faz parte do seu crescimento preenchê-los com seu próprio esforço, sem que precise depender da sua união com outra pessoa.

Então podemos compreender que a relação afetiva não tem como foco a responsabilidade de resolver todos os questionamentos conjugais. O afeto é parte da solução, mas compete a cada um preencher os seus próprios vazios.

Segundo o psiquiatra Flávio Gikovate, todas as pessoas têm o direito de buscar sua autoafirmação, até porque a solidão também faz parte das transformações pessoais. Um encontro pode trazer satisfação, desde que haja tolerância, vontade e atitudes solidárias de ambas as partes. A fusão com total dependência recíproca, ou seja, a diluição de um no outro, positivamente, não existe, porque a paixão é exigente, egoísta, autoritária, possessiva e traz mais problemas do que soluções.

Afinidades aproximam as pessoas, mas é bom lembrar que de perto ninguém é perfeito. Assim, em algum momento do relacionamento, alguém sempre vai “pegar no pé” de alguém. Quando as diferenças são mais fortes, o espaço vital de cada um e afetado e isso traz conflitos, problemas e desconfortos para ambas as partes.

Conclusão: Inteligência emocional deve ser praticada e aperfeiçoada no dia a dia. Todos nós sempre vamos ter afinidades e diferenças. As afinidades representam fortaleza, e precisamos valorizá-las, aproveitá-las. As diferenças representam fraquezas, são os desafios que precisamos enfrentar, transpor.

Nossa vida está toda numerada. Ela só pode ter harmonia quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Em outras palavras: uma boa comunicação verbal, o saber ouvir com atenção, ser simpático no convívio, aceitar o outro como ele é e respeitar o jeito de ser da outra pessoa ajudam muito no relacionamento.

Vamos sintetizar assim: a experiência não se transfere, ela tem que ser vivida. Cada um vai construindo o próprio caminho à medida que caminha, que vive. Ninguém pode viver aquilo que compete a nós e a cada um viver. A experiência vem dessa vivência e da forma como vamos enfrentando as situações e os desafios que surgem durante essa caminhada da vida.

 

Cônego Pedro Paulo Scannavino

Paróquia São João Batista

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