Velhice: otimismo, pessimismo, realidade

Com a velocidade com que corre o tempo, com as limitações da idade e o peso implacável dos anos, é inegável que todos nós procuramos administrar nossa vida da melhor maneira possível.

Quantos que, para se sentirem confortáveis, procuram ocultar a verdadeira idade, iludindo-se com sua aparência, tentando mostrar-se mais jovens?!

Alguns conseguem até chegar ao limite do otimismo, caindo no ridículo. Muitos, para não caírem no ridículo, acabam derrotados e pessimistas.

Qual seria, então, a melhor solução?

Otimismo: viver mergulhado na fantasia e na ilusão? Certamente, não!

Pessimismo: sentir-se derrotado e vencido pela força e fraqueza do tempo? Também, não!

Sejamos realistas: a velhice é a exposição crua da fragilidade corpórea. É a desintegração gradativa do corpo, mas não da alma.

No tema de hoje, vamos fazer um ensaio sobre a velhice. Mas, antes de tudo, algumas palavras de Paulo Gracindo, ator: “A vida depois dos 70 é assim mesmo, é só fazer sofrer a gente que a gente ama”.

Qual é o porto seguro, o refúgio na velhice? Talvez a solidão seja o único elo com a vida. O que não é novidade, até porque chegamos à vida sozinhos e sozinhos a deixamos. Então é bom ir se acostumando. O ser humano é um relâmpago num céu cinzento. O brilho passa. O que permanece é a lembrança.

Ninguém tem condição de prever o destino do homem. O aprendizado é contínuo. É sempre um processo doloroso, e ninguém sabe o que o aguarda. Mas uma coisa é certa: envelhecer é um eterno fugir dos medos e das ausências. E isso não é fácil, porque são ausências que, invariavelmente, estão presentes.

Velhice é um mundo diferente. Não existem duas velhices iguais, com os mesmos sintomas. É mundo das limitações. É uma espécie de jarro irremediavelmente quebrado. Medo de confessar a idade, exaustão, pobreza, dificuldade para enxergar, ouvir, andar, mastigar, digerir. Também de distribuição capilar escassa. O velho simplifica a operação de comer e tenta tardiamente comer certo o que sempre comeu errado. Dormir bem? Jamais! Dormir se torna a própria cruz do dia seguinte, com os múltiplos “acordar noturnos”. O coração, com suas sístoles e diástoles desgastadas, anuncia que já está exausto de bater e, muitas vezes, de apanhar... As mãos enrugadas, inseguras, frágeis, trêmulas, têm manchas e pintas marrons como cinzas de um vulcão já extinto...

Com essas expectativas, médicos e remédios começam a ficar cada vez mais próximos. 

Que Deus tenha piedade do que sobrou, porque o que já era difícil, depois dos 70 ficou mais ainda.

O mundo é diferente todos os dias! Acreditem nisso! O futuro depende do presente! O futuro não está escrito, mas, ao viver, nós o traçamos.

Quando o jovem de trinta anos entender que a vida é uma quase ilusão, ele vai se curvar mais aos cuidados físicos e espirituais. Assim, o entardecer da existência vai ter sabor de uma quase harmonia.

Por que descobrimos tão tardiamente que ser tolerante e compreensivo exige mais do que apenas aceitar?

 

Cônego Pedro Paulo Scannavino

Paróquia São João Batista

 

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