Na Bíblia, quais foram as últimas palavras de Maria?

As palavras de Maria nas bodas de Caná, “fazei tudo o que Ele vos disser” (João 2), têm uma relação especial e se harmonizam com a palavra do Pai na manifestação no Monte Tabor, quando Jesus se transfigurou diante dos discípulos. A voz do Pai se fez ouvir: “Este é o meu Filho amado! Escutai-O! (Mateus 17,5). Maria diz a mesma coisa, com outras palavras, e convida a todos a escutar seu Filho e a segui-Lo.

No Livro do Êxodo 19,5-6, o Senhor diz a Moisés: “Se realmente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida entre todos os povos. (...) Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa”. A esse anúncio, todo povo respondeu a uma só voz: “Faremos tudo o que o Senhor nos diz” (Êxodo 19,8). Deus se revela a Moisés no Monte Sinai no terceiro dia. Jesus revela sua glória no terceiro dia e os discípulos creem nEle. O povo crê em Moisés. Os discípulos creem em Jesus. Em ambas as situações, Deus quer fazer uma aliança com a humanidade. No primeiro caso, Deus escolhe Israel, que acolhe sua aliança. No segundo caso, Maria acolhe a fé do seu povo na aliança e orienta para que outros também a acolham e obedeçam. O povo disse “sim” à aliança e, então, nasce o povo de Israel, povo escolhido de Deus. Em Caná, Maria orienta para o novo e definitivo pacto com Deus, e ali nasce o povo da nova aliança, o definitivo povo de Deus. Maria faz memória, recordando ao novo povo de Deus que deve ser fiel ao pacto. E ela intercede pelo povo. Ela responde com fidelidade a seu Filho, assumindo a fidelidade de seu povo.

Todas essas são expressões que Maria vivenciou e assumiu como atitudes fundamentais para o seguimento fiel da aliança. Por isso, ela é Mãe: fez o que Deus pediu: “Quem cumpre a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Marcos 3,35). Jesus considera fundamental escutar a Palavra e cumpri-la, fazendo a vontade do Pai.

No Evangelho de João, Maria aparece não só como aquela mulher que escuta e põe em prática a Palavra de Deus, mas como alguém que propõem aos demais para que façam o que Jesus, que é a Palavra viva, diz. O tipo de relação que Maria mantém com Jesus é de alguém que se coloca a serviço de seu projeto de vida, que estimula as pessoas a fazerem o mesmo e a colocarem na prática a sua Palavra: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

Essas foram as últimas palavras registradas de Maria. Desde então, não há mais nenhuma outra mencionada nos Evangelhos. Essas últimas palavras de Maria servem como seu testamento. Tudo o que ela tinha a dizer está dito ali. Ela se cala agora para que Ele, Jesus, a Palavra viva, fale.

“Também Maria falou. E nos deu Jesus. Jamais alguém no mundo foi apóstolo maior. Jamais alguém teve palavra como a sua. Ela que deu Verbo. (...) E Ela silenciou porque, simultaneamente, os dois não podiam falar. A palavra há de pousar sempre no silêncio, como a pintura pousa na tela de um quadro. Silenciou porque criatura. Porque o nada não fala. E sobre aquele nada falou Jesus, e disse a palavra, que é Ele mesmo” (Chiara Lubich).


Cônego Pedro Paulo Scannavino
Paróquia São João Batista
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