“Queres ficar curado?” (João 5:6)

Jesus dirige essa pergunta a um paralítico que havia 38 anos permanecia deitado junto à piscina de Siloé, esperando um milagre para poder andar.

Nessas circunstâncias, poderia parecer algo retórico e até cruel perguntar a esse homem se queria recuperar a saúde. Seu desejo era evidente: ele aguardava com ansiedade o agitar-se das águas e a ajuda de uma mão salvadora. Jesus, porém, sabe o que se passa no íntimo do coração humano. Ele conhece em profundidade nossas estranhas maneiras de proceder. Curiosamente, entre as coisas raras de que somos capazes, está o fato de que muitos, no fundo da alma, preferem continuar prostrados para sempre, ao invés de se levantar. É curioso que para nós, muitas vezes, é difícil aproximar-nos de quem pode nos ajudar. Temos medo de que o nosso mal seja diagnosticado. Nós o negamos, o escondemos e permitimos que continue a avançar. Esta é uma constatação feita por psicólogos, médicos e diretores espirituais. Rejeitamos o uso dos meios que nos fazem andar. Queremos apenas aliviar os sintomas, aprender alguma receita fácil... deixando claro, porém, que o mal é tão profundo que não tem remédio.

Isso vale também para as crises de fé, nas rupturas que extirpam o sentido de nossa vida. E nós nos fechamos aí, sem procurar as saídas. Pareceria que ninguém quer sofrer. Dir-se-ia que todos buscamos a felicidade, mas, estranhamente e com frequência, colocamos essa felicidade em compadecermo-nos de nós mesmos ou fazendo-nos de vítimas para que outros se preocupem conosco, tenham pena e se aproximem de nós. Parece agradar-nos o fato de que nos olhem com compaixão.

Não é raro encontrar pessoas que narram em detalhes suas doenças, as incompreensões e os maus tratos que recebem injustamente. Os rancores, as raivas profundas que nos ferem por dentro, os remorsos doentios... estão escondidos em nosso interior, agarram-se em nós como carrapatos; e nós nos agarramos a eles como se fossem nossa identidade. Eles nos paralisam como ao enfermo à beira da piscina de Siloé.

O verdadeiro mal não está tanto na dor física ou no sofrimento que nos aflige, mas no modo como procedemos em relação a eles. Cedo ou tarde, todos temos de enfrentar a dor. O drama está em que alguns de nós preferimos ficar empacados, paralisados para sempre no mal. Isso explica o fato de que Jesus, antes de empreender a aventura do milagre e da fé, nos pergunta: “Queres ficar curado?”.

Diante de tantas dores, dúvidas de fé, incompreensões, falta de sentido na vida, é necessário que façamos, com honestidade, a pergunta formulada por Jesus ao paralítico: “Queres ficar curado?” Queres ajudar-te e deixar que te ajudem? És realmente capaz de confiar nos outros e no Senhor? És capaz de encarar com honradez a verdadeira causa do que te acontece? Tens audácia suficiente para utilizar os meios eficazes para sair da paralisia? Se não quiseres participar, no mínimo, com esse desejo de tua parte, todos os teus males tornam-se incuráveis. Mas não te esqueças de que o Senhor veio para convidar-te a andar.

“Queres ficar curado”, seja do que for, física ou espiritualmente?

A pergunta é do Cristo, a resposta é sua!


Cônego Pedro Paulo Scannavino
Paróquia São João Batista
Clima Bebedouro

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