“Quando alguém diz: Você quer casar comigo? Esta querendo dizer: Se eu me fizer uma casa, você mora em mim?”. (Zack Magiezi)
Nós vivemos sob assédio de dois mundos: o mundo da “vida vivida” do cotidiano e o mundo da “vida pensada” do imaginário. São duas vidas caminhando juntas paralelas como os trilhos do trem rumo ao infinito.
Na vida vivida há a materialidade de duas solidões protegendo-se uma à outra. Na vida pensada há a individuação, ou seja, sonhos, fantasias e principalmente desejos pessoais. E nós transitamos duvidosos entre esses dois mundos: vida vivida no cotidiano ou vida sonhável, do Eu-Desejante sempre de plantão?
Quando o beijo do Eu-Desejante acontece é eterno, é único e não tem repeteco, pouco importando se foi consciente ou inconsciente. Esse beijo pertence ao universo dos humanos angelicais... Esses são metade anjos, metade humanos.
O Eu-Desejante existe em muitos níveis, direções, intensidades e circunstâncias. O beijo foi só um exemplo! A verdade é que muitos fingem ignorar o Eu-Desejante como se não houvesse esses chamados da vida. Noventa por cento dos poetas são trovadores porque teem como fonte inspiradora o desejo não realizado. Logo se não aconteceu o realizável, o significável vai estar sublimado no poetável.
Há muitos tipos de gente neste mundo, mas os “Eus-Desejantes” pertencem à tribo dos sensíveis, sonhadores, românticos, autênticos, criativos, capazes de evoluir as pequenas coisas e diminuir as grandes.
Tem coisas que perdemos pelo caminho... Tem outras que não desejamos perder nunca! É quando se revela o Eu-Desejante, tentando resgatar o significado do que é tão sutil... É a nossa vida seguindo adiante sempre buscando o encontro de dois mundos, de duas metades para ser um inteiro. O Eu–Desejante é a metade da vida. A indiferença é a metade da morte. Com o que ficamos com o primeiro ou o segundo?
Oscar Wilde diz: “Cada um de nós tem um céu e um inferno dentro de si. O céu eu não sei dizer o que é. O inferno é ter perdido a esperança”. Lindo isso não?
“O coração é a região do inesperado”. Assim diz o poeta Machado de Assis. O Eu-Desejante surpreende a realidade com sua insustentável leveza. O mundo da realidade tem seus limites. O mundo da imaginação é infinito e só conhece uma exigência: amar sem limites. É a magia do desejo, o Eu-Desejante, uma alma em dois corpos amenizando ansiedades emocionais.
Certa vez um Cosmonauta e um Neurologista discutiam sobre Deus e sobre o amor. O cosmonauta disse: Já estive várias vezes no espaço e nunca vi Deus! E eu, disse o neurologista, já operei muitos cérebros de pessoas inteligentes e também nunca encontrei a inteligência, amor, e nem Eu-Desejante... Mas, que eles existem, não tenha a menor dúvida!
O universo não está aplaudindo ou abençoando ninguém. Ele apenas responde às atitudes de entusiasmo ou de descrença que as pessoas emitem. Assim o amor só é apropriado e lindo quando encontramos quem que nos transforma no melhor que podemos ser. A vida é frágil, o amor não! A vida provoca os entretantos... E nós fazemos acontecer os finalmentes, mesmo sabendo que o tempo é curto e que nós levamos muito tempo para nos tornar a pessoa que queremos ser.
O filósofo Gibran Khalil é enfático ao dizer: “Se você apagasse todos os erros e desejos do seu passado. Você apagaria toda sabedoria do presente”. É verdade, num mundo insensato, o Eu-Desejante pode não ser a opção mais sensata. Até que um dia possamos evoluir para “Eu-Maior”, agora sim desfrutando a vida com menos egoísmo e com mais propósito de verdade e forte parceria com Deus que é muito mais adequado que os desejos humanos.
Reflexão – Covarde é aquele incapaz de demonstrar sentimento de amor. Às vezes ele chega só a pensar... Mas isso é tudo, ou melhor, isso é muito pouco. Demonstrar amor é privilégio dos ousados, dos corajosos. O corajoso não deixa para depois. Depois a prioridade muda. Depois o encontro se perde. Depois fica tarde demais. Depois a emoção passa. Depois tanta coisa muda...
E finalizando, o Eu-Desejante não deixa de ser o Eu-Desejante quer seja realizado ou não. Sem o realizável não vai existir o significável da nossa identificação evolutiva que não cessa nunca. Mas, antes de tudo que o espiritual sempre prevaleça sobre o material...
Transitar entre esses mundos é a grande questão! A vida é uma grande universidade, mas pouco aprende quem não sabe ser bom aluno.
Antônio Valdo A. Rodrigues