Fotografias...

“Todo amor, todo meu ver, todo meu não, tudo estava perdido e aí juntei em uma fotografia, tudo em ti”. (Antônio Cícero)


Nossa vida tem sempre um clima de despedida das coisas, das pessoas. É só parar para pensar do que já nos despedimos, do que estamos nos despedindo e o que vem pela frente... Despedidas! E o pior é que nas despedidas temos a nítida impressão que, em alguma coisa falhamos, deixamos a desejar, que poderíamos ter sido mais esforçados, mais tolerantes, mais sábios.

O teatrólogo Antônio Abujamra dizia: “Eu tive mais de cem fracassos. Sou uma experiência que não deu certo”. E continua sua reflexão: “Eu queria ter duas vidas: uma para ensaiar e outra para viver”. E nós podemos dizer: “Só você Abujamra?” A propósito o que fotografias teem a ver com isso?

Somos apaixonados por imagens, tanto a nossa como a dos outros. Queremos perpetuar, documentar instantes. Só não sabemos para quê e para quem? Narciso era apaixonado por sua imagem e nós somos todos um pouco “narcisistas”. Queremos recordar... Mas afinal recordar o quê se tudo vai estar no silêncio do passado imexível?

Vivemos nos dias atuais uma saturação, uma overdose de fotografias. Nunca tiramos tantas fotos e nunca elas tiveram tão pouco valor. Com a mesma facilidade com que hoje tiramos fotos é assim mesmo a facilidade com que nos esquecemos delas.

Todo mundo fotografa, mas poucas são as fotos “reveladas” para permanecer na moldura ou no porta-retratos. E mesmo àquelas mais relevantes, especiais e memoráveis acabam sendo esquecidas, abandonadas em um álbum que vai permanecer engavetado. E as fotos com o tempo vão perdendo o brilho, a cor, a definição, vão amarelando e para complicar vão deixando de ter até significado.

Fotos e mais fotos, sempre mais e em sua maioria de péssima qualidade gravitam entre nós encavalando na memória do celular, câmera, “leptop”, computador... Fica uma sensação de lugar comum como se todas tivessem igual “desvalor”. Poucas vão ser lembradas e a maioria vai ficar mesmo perdida na multidão das parecidas...

A fotografia é apenas um “flash” do que já não é mais. A fotografia não é o agora à luz da eternidade. Ela foi o que já não corresponde mais à realidade. Ela representa forte nostalgia, solidão que não volta atrás. Que pena que a gente não pode voltar os ponteiros do relógio para começar tudo de novo!

Já observaram que a fotografia conversa com a gente? É verdade! Ela faz perguntas profundas sobre a vida, questões essas que nos incomodam. E nós nos economizamos para responder por que não sabemos bem o que dizer...

Fotografia não é essência! Fotografia não é tudo é apenas fragmento de vida. É o hoje que logo vai ser o ontem completamente esquecido. Ela é um momento que não nos pertence mais. Esse é propósito da fotografia: cristalizar, congelar, pausar uma cena da vida para a análise da posteridade. Análise?

Ah, mas a fotografia também preenche vazios que temos dentro de nós, repletos de ânsias, desejos, expectativas, intenções parecendo dizer a todos os instantes: “Que pena! Nosso convívio poderia ter sido bem mais intenso... Por que nos contivemos tanto para amar? Por que somos às vezes inadequados enquanto a vida segue bela e intensa?”.

A fotografia sempre vai ser o silencioso registro de uma realidade que um dia existiu. O final da vida é muito relativo. A vida não acaba. A morte apenas liberta a alma para seus novos desafios. O filósofo Montaigne sugere: “A morte é o momento quando o morrer termina”. Então podemos definir aquela foto especial exposta em algum lugar da casa assim: “É a menor distância, é uma ponte entre dois corações que se amaram de verdade tendo como foco ser apenas um coração”.


Reflexão – A vida flui assim mesmo. Sempre vamos conviver com presenças e ausências. Mas a regra, a pauta da nossa história é clara: “Para vencer há que se passar pela derrota. Para sentir prazer, há que se passar pela dor. Para se valorizar os vivos há que se passar pela ausência dos queridos que hoje estão apenas retratados em uma fria parede que insiste em sepultá-los num visível esquecimento”.


Um dia quem sabe possamos conhecer a abrangência do amor. Aquele afeto que vai além da ternura materna, da amizade filial, da dedicação fraterna, da afeição conjugal... Então vamos nos aproximar do Pai Criador. Só então vamos compreender o sentido da Fraternidade Universal.


Antônio Valdo A. Rodrigues
Clima Bebedouro

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