Caixa de Pandora

“As melhores coisas da vida, não são coisas, são pessoas, atitudes”. (A. Buchwald)

 

 

 

Nada é eterno – na mitologia grega há uma história sobre Pandora. Tudo estava no projeto de deus. Ele a fez perfeita. Deu a ela valiosos atributos: prudência, paciência, tolerância, compreensão, humildade, enfim, uma série infinita de dotes para ser feliz. Ela não precisava nem rezar, a vida saudável já era uma oração.

 

Compromisso – deus só fez uma exigência. Presenteou-a com uma caixa, bem lacrada, e foi alertada para nunca abrir, assim ela se fortaleceria na obediência ao senhor. E assim foi, durante bom tempo, ela viveu a vida plena em família, com seu esposo. Epimeteu. Tudo era paz, beleza, pureza...

 

A carne é fraca – Pandora e Epimeteu contemplavam a harmonia do lar... Mas a vida traz falsos imediatismos. Pandora disse: ‘Querido vamos abrir a caixa, só para ver o que há lá dentro? Logo a gente fecha!’ Epimeteu encantado com a beleza e doçura de Pandora concordou, afinal, seria só uma ‘rapidinha’ e nada mais! Nada mais?

 

Desobediência – A idéia foi espetacularmente ruim! Desobedecer é perder a confiabilidade do senhor e quem procede mal, eis, que o pecado está à porta. A lei é clara: ‘O teu desejo incontido será contra ti’. E Pandora foi tirando, laço por laço... Que pena!

 

Os vilões-Ao abrir a caixa, o mal todo sai. As maldades que estavam aprisionadas, na caixa extravasam: imprudência, dor, tristeza, mentira, falsidade, insatisfação, egoísmo, vaidade, orgulho, vergonha, insensibilidade, traição, vulgaridade... Logo as maldades se espalharam, contaminando as mentes de Pandora, Epimeteu e toda a espécie humana. No fundo da caixa restou apenas a esperança. E agora? Como restaurar a herança deixada por deus, com as adversidades causando tantas iniquidades?

 

Ah, Pandora! –Era tudo tão bom, lembra-se? O amor era ‘Ágape’, com deus, de um para o outro, em gozo eterno e se dispunha a dar, mesmo não recebendo nada em troca! Uma espécie de relação ‘Vegana’, com muita ternura! O amor ‘Filéo’ era afeto fraterno entre pais, filhos, irmãos, amigos... Agora, que lástima! É o hedonismo, com o amor ‘Eros’ compartilhando egoísmos em contraditória e descontrolada carnalidade, sujeito às insatisfações, frustrações e muito enfado da carne. Até as crianças já nascem contagiadas, rebeldes. Não obedecem aos pais, professores. Não aceitam regras, normas, não têm limites nem disciplina... ‘Ah, Epimeteu, faça alguma coisa! Tente negociar, uma solução, para que as maldades voltem para a caixa!’, disse Pandora.

 

A negociação – Epimeteu e a Esperança, que não desiste em face de desilusão, resolveram falar com o chefe das maldades. E sabe quem era? A insensibilidade, disfarçada de boazinha, mas especializada em esfriar o amor. Pediram a ela para que as maldades voltassem para a caixa. A insensibilidade, de narizinho em pé, exigiu: ‘Nós só voltaremos se pudermos levar as virtudes com a gente. E tem mais, quando sair uma virtude, sai uma de nós também!’ A esperança concordou e disse: ’Você, insensibilidade, é canalha e covarde!’ E assim as maldades voltaram para a caixa, sempre tendo ao lado uma virtude. A carnalidade gargalhava da espiritualidade; a malícia agarrava-se à pureza; a falsidade fingindo-se amiga da verdade; a vingança com sangue nos olhos fitava o perdão; o materialismo, firme e forte, juntinho com o altruísmo. E assim as virtudes ficaram reféns das maldades. Apenas a esperança estava bem livre, de prontidão, pronta para dar o bote e fazer o ‘bem maior’, prevalecer sobre o ‘mal maior’.

 

 

Reflexão – A vida sempre vai ter contundências para o homem acertar as contas com Deus. A caixa de Pandora nos coloca diante de uma questão: ‘Como estamos construindo nossas vidas? Estamos priorizando o quê? Estamos fazendo, dos acontecimentos, uma aproximação com o Senhor?’

 

Nota – A existência é retribuitiva. Seja o bem, ou seja, a mal, ela devolve tudo o que dirigimos a ela. Tudo.

 

Antônio Valdo A. Rodrigues

Serra Negra – SP

E-mail: valdo11rodrigues@yahoo.com.br

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