“A vida tem uns achados felizes. Mas ela não é uma festa que a gente imagina que exista”. (Gabriela Mistral)
Ciclos – A gente está sempre começando ou terminando um novo ciclo na vida. Nessa ciranda, apesar de a evolução do homem ser muito significativa, ele está sempre perdendo, mas ao mesmo tempo, encontrando algo novo. Podemos dizer que nessa fábrica de desejos, que o mundo é, o homem tem sete vidas: colo, criança, juventude, adulto, idoso, velho, ancião. Através de uma descritiva literária, vamos ver que o ser humano vive com: dor, sonho, amor, medo, protesto.
Colo – O gato feliz, do nascimento até aprender a andar. Não contando a vida uterina, na qual a ‘locadora’ e o ‘locatário’ não têm poder de decisão, a aprendizagem começa no colo, mas o nenê já quer dar suas escapadinhas, ‘engatinhando’ pela casa. Porem antes, bem antes... ‘Tentei dizer quanto te amava, aquela vez, baixinho, mas havia um grande berreiro, um enorme burburinho, e, pensando bem, um berçário não é o melhor lugar. Nós dois de fraldas, lado a lado, cada um recém-chegado. Você sem poder ouvir, eu sem saber falar’. (L.Veríssimo)
Criança – O gato arteiro, até os doze anos. Só quer brincar e fazer ‘arte’. ‘Batatinha quando nasce, espalha ramas pelo chão. Nenezinho quando dorme põe a mão no coração’. ‘Atirei o pau no gato to, mas o gato to, não morreu reu. Dona Chica ca, admirou-se se, do berrô, do berrô, que o gato deu Miaaau!’
Juventude – O gato no telhado, até os dezoito anos. O adolescente começa a sonhar e acha que já sabe o que é o amor. Afinal o que é o amor? ‘Amor é fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente. É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer. É um querer, mais que bem querer. É nunca contentar-se de contente. É cuidar que se ganha em se perder. É querer estar preso por vontade. É servir a quem vence o vencedor. É assim o amor’. (Luís de Camões)
Adulto – O gato sapiens, até os cinquenta anos. ‘Fica permitido que o pão de cada dia tenha, no homem, o sinal do seu suor... Mas que, sobretudo, tenha sempre o quente sabor da sua sensibilidade e ternura’. (Thiago Mello)
Idoso – O gato convencido e teimoso sessenta anos. ‘Não, não quero nada. Já disse que não quero nada. Não me venham com conclusões. Não me enfileirem conquistas. Das ciências, das ciências... Deus meu, das ciências, das artes, da civilização moderna! Que mal fiz eu a Deus?’ (Álvaro Campos)
Velho – O gato acima de qualquer suspeita, setenta anos. ‘Para que chorar o que passou. Lamentar perdidas ilusões. Se o ideal que sempre nos acalentou, renascerá em outros corações’ (Ataulfo Alves). ‘Se não houver frutos, valeu a beleza das flores. Senão houve flores, valeu a sombra das folhas. Se não houve folhas, valeu a intenção da semente’. (Henfil)
Ancião – O gato da felicidade ‘faz de conta’, dos oitenta anos até os, sabe lá quantos mais... ‘E agora José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou. E agora José? Você que é sem nome, você que fez versos, que amou que tem tantos diplomas na parede... Agora protesta. E agora José? Está sem mulher, está sem discurso, sem dinheiro, sem carinho. A noite esfriou, o dia não veio, o riso não veio, não veio o sonho e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou... E agora José? (Carlos Drummond de Andrade)
Reflexão – Cada uma, das sete vidas, possui uma essência própria, que a distingue das demais. Mas nada leva a idéia de superioridade ou inferioridade. A vida acontece do jeito que tem que acontecer. Não digo mais nada. Que mais há a dizer? Talvez que existe uma amplidão muito grande na gratidão. Então agradeça. Agradeça a Deus o teu crescimento em 2019 e seja, a tua ‘melhor versão’, em 2020.
Nota – Desculpe! Particularmente, acho uma delícia, poder dizer a todos, de um jeito diferente, ‘Feliz Natal! Que Deus seja teu Universo!’
Antônio Valdo A. Rodrigues
Serra Negra – SP
E-mail: valdo11rodrigues@yahoo.com.br