‘Difícil é lidar com ele. Ele tumultua os pais, os professores e acha que é incompreendido pelos seus próprios colegas’. (Cecília Meireles)
Não se faz um texto. O texto nasce. É só observar a vida, prestar atenção aos fatos, a uma conversa e o conteúdo aparece naturalmente. Melhor ainda quando a matéria literária revela clamor por mais vida bem vivida com requisitos de qualidade. Todos podem acrescentar vida a seus dias. É o que vamos ver.
Conversa que manipula – Ser adolescente é ter grandes sofrimentos em pequenas almas. A fase de crescimento é complicada, desperta medo, angústia, ansiedade e há sempre por perto um ‘manipulador’, oportunista de plantão, preparado para enganar e dar o bote. Ele é um ladrão, e vai usar palavras planejadas para conseguir uma resposta emocional como culpa, temor de perda ou vergonha. Ele atrai, seduz e confunde o que a pessoa tem de mais precioso, a dignidade.
Cenário – A garota está se ‘descobrindo’ apaixonada. Ele se faz de vítima e manipula os sentimentos dela assim: ‘Estou pensando em desistir de você. Eu já cansei de pra você não ser ninguém. Para provar que me ama você vai me pertencer agora!’ Conversa garota! Bravata, não entra nessa onda não! É fria. Você é inteligente para não aceitar a ‘baba’ desse covarde. ‘Stay Away’, fique longe! Seja coerente, responda ao leviano segundo a sua leviandade. Ser dona da tua vontade é fazer a diferença. Porque todas fazem não é referencial para que você também faça. Ter maturidade é ter atitude diante da vida. Antes de tomar uma decisão, analise a repercussão destas duas perguntas: ‘Deus está nesse negócio?’ ‘Isto é de Deus?’
Porta errada – Muitos entram pela porta errada da vida. Não sabem esperar e estragam a rotina de estudante. Embaçam o melhor futuro. E o que Deus havia idealizado para ser tão bom, agora é tão cheio de problemas mal resolvidos que inundam as vidas sem pedir licença, como água irrompendo por uma barragem... E a adolescente despreparada física e emocionalmente, agora tem um Mateus no colo. E a lei é clara: ‘Quem pariu Mateus que o embale’. Em outras palavras, o problema é teu e não da mãe, avó ou sogra. Embalar é cuidar, educar o filho para ele saber transpor as dificuldades, principalmente quando ele estiver com a tua idade. Entendeu?
Maturidades desiguais – Duas adolescentes conversando. ‘Eu queria muito ir à Festa do Peão, mas meu pai não deixa’. A colega, sabendo que nessas ‘festinhas’ rola bebidas, drogas, prostituição, violência, disse: ‘Eu não vou porque eu não quero!’ Interpretação. A primeira garota, despreparada para os embates da vida, não percebe os perigos aos quais pode se expor e só não vai porque o seu pai não deixa. E se não tivesse pai, liberava geral? A segunda, com critério para avaliar o perigo, sabe o que é certo e o que é errado, independentemente de seu pai estar controlando seu comportamento. Quando ela diz: ‘Eu não vou porque eu não quero’, ela está sendo senhora da sua vontade. Tem outro detalhe extremamente importante, está obedecendo a vontade de Deus. Ela tem normas, limites, disciplina e assim vai criar e educar os seus filhos.
Pai presente – É aquele que sabe que o filho vive sonhos e projetos de um ‘vir a ser’. José Saramago, escritor renomado, ajuda-nos a não ser omissos, mas corajosos e responsáveis na educação dos filhos. Diz ele: ‘Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguem, alem de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos, para darmos melhores exemplos, e de aprendermos a ter coragem. Isso mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguem pode ter, porque é se impor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e de medo de perder algo tão amado. Perder? Como assim? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo’.
Reflexão – Adolescente aceita o que é certo. Doi menos. Você é jovem, mas tem autoridade para fazer suas escolhas na vida. Saiba dar tempo ao tempo. Assim nos lembra Mia Couto: ‘Mudam-se os tempos, desnudam-se as vontades’.
Nota- Convidamos o jovem a falar. Não se satisfaça só com a nossa convencional narrativa da vida adulta. Fale agora, ocupe o teu espaço antes que o tempo passe...
Antônio Valdo A. Rodrigues
Serra Negra – SP
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