“Só a leve esperança, em toda vida, disfarça a pena de viver”. (Vicente de Carvalho)
O que é devanear? É imaginar, sonhar, divagar... Sobre o quê? Sobre o que quiser. Vamos começar nosso devaneio, parafraseando José Paulo Paes.
Acima de qualquer suspeita – “A poesia está morta e com ela a sensibilidade tão necessária e cheia de quimeras verdadeiras. Mas juro que não fui eu. Eu até tentei fazer o meu melhor para salvar, resgatar a sensibilidade.
Imitei diligentemente: Fernando Sabino, Mário Quintana, Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, José de Alencar, Oswaldo de Andrade, Machado de Assis, Joaquim Manoel Macedo, Érico Veríssimo... Não adiantou nada! Em desespero de causa insisti imitar um pouco desses gênios da literatura, muitos outros escritores também, que possuíam a sensibilidade, dignidade do silêncio... Não consegui!
O meu entusiasmo, a minha motivação foram arrefecendo, enfraquecendo. E entenda que as investidas foram muitas. Elas sempre existiram, mas em vão nunca encontraram eco, ressonância. Seriam leituras em vão! (Em vão?) O entusiasmo, creio, só ficou na mente das pessoas, nas intenções logo abortadas antes de se fazerem realidade... Que pena que a vida é assim! É, a sensibilidade, não tenha dúvida, foi extinta e com ela o Antônio Valdo que acreditou ter existido! Será que ele existiu?”
Desencontrários – “Mandei a palavra rimar. Ela não me obedeceu. Falou em mar em céu, em rosa, em grego, em silêncio, em prosa. Parecia fora de si, a palavra silenciosa. Mandei a frase sonhar, e ela se foi num labirinto. Fazer poesia, ora fazer poesia eu sinto, apenas isso. É como dar ordens a um exército para conquistar um império extinto”. (Paulo Lemiski)
Os instantes – “Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, os poemas alçam vôo, como de um alçapão. Poemas não teem pouso, nem porto, alimentam-se, um instante, em cada par de mãos e partem. E olhas, então, em tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes, que o alimento deles já estava em ti... ”(Mário Quintana)
Mudanças... Retratos... –“Eu não tinha este sonho de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas, frias e mortas. Eu não entendo esta mudança tão simples, tão certa, tão fácil. (Tão fácil?) Afinal, em que espelho ficou perdida a minha face?” (Cecília Meirelles)
Os clássicos – “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer... Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato, se revelam novos, inesperados, inéditos”. (Ítalo Calvino) Nota: Machado de Assis; Carlos Drummond de Andrade são clássicos.
Ombros que suportam o mundo – “Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Menos ainda: eu te amo. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos fazem apenas o rude trabalho. E o coração está seco...
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. É todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que as mãos de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões, provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Chegou um tempo em que a vida é mistificação, é apenas uma ordem”. (Carlos Drummond de Andrade)
Reflexão – A literatura é como a sensibilidade. É graciosa, mas ainda incompreendida por muitos (por muitos, Deus meu, por muitos!) Até quando, a insensibilidade precisa apanhar todos os dias, para saber quem é? Que pena! Temos a impressão que estamos todos na sarjeta. Ainda bem que alguns de nós olham para as estrelas...
O filósofo austríaco. Ludwig Wittgenstein, diz: “Os limites da minha linguagem, são também os limites do meu pensamento”.
Pasquale Cipro Neto, não deixa por menos: “Falar bem significa ser poliglota dentro da própria língua”. É verdade, a única constância na vida é a diversidade, é a mudança!
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