Margem do rio

“O que se vê e se ouve é passageiro. O que se sente é eterno”. (Mário Quintana)

Pai e filho conversam – O diálogo foi assim: “Pai, hoje eu aprendi na escola, quantas margens tem um rio. O senhor sabe?” O pai respondeu confiante: “Duas filho: a margem esquerda e a direita”. “Não pai está errado! Eu quero saber direitinho, pense bem!” O pai pensou, pensou e falou: “Já sei! O rio tem três margens: a direita, a esquerda e a margem da profundidade. A margem também está dentro do rio. Acertei?” “Não ainda pai, quase!” “Mas afinal filho, quantas margens tem o rio? Estou curioso pra saber!” “Meu pai, o rio tem infinitas margens”.

Lição de casa – “Veja pai o que a professora me ensinou”. E pegando o seu caderno de anotações leu pausadamente:“O rio tem infinitas margens. Nunca uma margem é igual a outra. Algumas são ‘aportáveis’, outras nem tanto. São grandes as diferenças: a água é turva e ás vezes cristalina, a flora, a fauna, a vegetação ribeirinha, as espécies de animais aquáticos e terrestres que habitam as regiões, tudo é diferente.Há também o volume, a velocidade das águas que nas cheias invadem as terras. A temperatura da água é variável de acordo com o tempo, estação do ano, local do percurso. A vontade do rio é soberana. Ele não pede permissão para ser deste ou daquele jeito e sabe que a melhor maneira de ser grande é fazer-se receptivo aos rios pequenos que o abastecem”.

Pai e filho se entendem – “E aí pai, gostou das informações?” O pai: “Fiquei satisfeito, orgulhoso por saber que meu filho está sendo aplicado na escola. Parabens filho! A vida é assim mesmo, ela exige que você seja um bom observador para ver o que não se vê; ouvir o que não é dito, acreditar e ter fé no dinamismo, trabalho e entusiasmo. Só assim poderás semear o mundo novo quedesejamos”. Pai e filho ficaram amigos para conversar mais sobre a existência.

Analogia do rio com a vida – Seguindo a força da gravidade em direção ao oceano, o rio segue o seu curso sem oferecer resistência. Belo exemplo ao homem que no transcorrer de sua jornada perde o foco para o qual foi criado: ser útil e aproximar-se, cada vez mais da perfeição com sabedoria, não só conhecimento. O homem pensa em viver com qualidade, mas,às vezes perde o rumo do seu compromisso com a vida e deixa o ânimo arrefecer. O rio dá um bom exemplo levando alegria onde há tristeza e convívio onde há solidão. Aos propósitos de Deus o rio é um provedor aos que navegam ou vivem ao redor.

O rio e a vida – Rio,boa metáfora para demonstrar a relação com a vida do ser humano. O inesperado ocorre mais frequentemente que o esperado, mas o rio segue seu estilo mesmo tendo o atropelo das suas infinitas facetas. O rio sempre está disponível com inúmeras possibilidades para ser benfeitor. O homem tambem tem infinitas maneiras para amar e agradar-se com as coisas doSenhor. É a vida seguindo o seu curso, como o rio, retratando a realidade. O rio lembra um coração generoso que entrega suas águas no oceano, mas, continua transbordando o seu manancial de riquezas. O rio não se faz. O rio nasce. É propriedade exclusiva de Deus e um presente aos homens. Com suas infinitas margens o rio traz segurança, realiza encontros, aproxima amigos e faz o amor acontecer. O rio é sempre uma festa, um espetáculo de simpatia e exuberância. Assim também deveria ser o homem.

Reflexão – “E aí Valdo, você falou quase tudo sobre o rio e vai encerrar sem falar um pouco sobre nós, os barqueiros?” É verdade! O compromisso do barqueiro é entender o rio incansavelmente. O barqueiro sente o rio e o ama como ama a Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de toda a sua força. E ele sabe que remar é preciso, ser feliz é conseqüência.
 O rio é ‘divina verdade’ na vida do canoeiro. Ele entende que o rio representa o dom de suportar o mundo. Curiosamente o rio é como o coração: região do inesperado. Pode ser calmo abrigo, sereno asilo. E o canoeiro não se entristece e remando vai pensando: “Só a leve esperança em toda vida, disfarça a pena de remar”.Para ele não é mais a existência resumida, que uma grande travessia bem realizada. Rio, um domicílio maior. Nele não há solidão, mesmo sabendo que um dia vai ter que parar, o barqueiro navega cantando: “Eu vou vender meu barco vou deixar de trabalhar...” Talvez ele já não seja tão feliz, mas, há tantas outras coisas na vida...!


E-mail: valdo11rodrigues@yahoo.com.br
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