Um sol poente

 

“A velhice é a mais inesperada de todas as coisas que acontecem a um homem”. (Leon Trotski)

 

Era uma vez um ancião que vivia muito feliz. As pessoas o admiravam, mas, queriam entender como era possível alguém, com seus oitenta anos ter uma visão completa, tranquila e consistente da vida.

Certo dia alguém quis saber o segredo de tanta felicidade e foi logo perguntando: “O senhor não se sente como um sol poente?” Ele pensou, pensou e respondeu: “Não é bom deixar a noite julgar o dia. O sol está apenas completando o seu ciclo e não é pelo fato de ter os vermelhos do crepúsculo, o silêncio apaziguador nostálgico, que ele deixa de ser o sol. Ele faz uma coisa de cada vez!”, e continuou: “Eu também sou assim: quando escuto, quero escutar; quando eu falo, quero falar; quando eu olho o celular, eu quero olhar o celular; quando eu durmo, eu quero dormir; quando eu sonho, há, quando eu sonho eu mergulho no sonho! Assim, sem perder o objetivo, uma coisa de cada vez!”.

O ‘perguntador’, não satisfeito, voltou à carga: “O que você está dizendo, a gente tambem faz. Você diz que quando escuta, quer escutar; quando fala, quer falar; quando olha o celular, quer olhar o celular, quando dorme, quer dormir... Afinal. o que há de especial nisso?” O ancião respondeu: “Há sim, uma grande diferença, veja: “Quando vocês escutam, querem falar; quando falam, querem olhar o celular; quando olham o celular, querem sonhar e são tantos os sonhos que vocês cobiçam que, sonhar enfraquece o momento presente”.

Moral da história - Todos nós estamos sujeitos à visita cruel do tempo e sabemos que viver intensamente é fazer uma coisa de cada vez.Com esse enorme aceleramento da vida, o espírito e o olhar vão se acostumando a pular estágios, a ver e julgar parcial ou erroneamente. Cada qual lembra o viajante que conhece terras e povos pela janela do trem e sabe de quase tudo um pouco e quase tudo mal. Tem pressa, tanta coisa o interessa que não sabe nada, tanto assim...

Pacto de vida – A vida tem razão de ser assim. Envelhecer é como o sol poente. É fazer uma coisa de cada vez. Há momento de brilhar, há momento de aquietar-se. Representa sabedoria a análise de todos os cenários, para apreciá-los sem correria, e assim poder entender direitinho o que eles teem a nos revelar.Ser um sol poente é pacto de vida que pertence à natureza do homem e ao propósito de Deus. Não é fácil descobrir-se envelhecendo... Atendência é não entender nada.Querer carregar hoje, os problemas de ontem, mas os de amanhã, vai complicar mais ainda!

O homem e o tempo – No mundo carnal há três vertentes para compensar as inúmeras misérias da vida: a esperança, o sorriso,e, saber envelhecer. Mas, há mais uma vertente essencial: é a maturidade. Ela chega quando acrescentamos Deus à lista.Então envelhecer vai ser só um pedaço do passado, no presente, embrulhando carinhosamente para o futuro.

Os pecados prediletos – Tudo o que é feito com ordem e decência é de Deus. Mas, fala sério, será que não representa certo cinismo e aviltamento, o mau uso do tempo? Vejamos.Todo e qualquer excesso de: redes sociais, recreação, roupas da moda, festas, conversas ociosos, modismos, companhias sem proveito, mesmoo sono, além do necessário para a saúde, seis ou oito horas, roubam o tempo presente. Redobre a vigilância para não enfraquecer a qualidade de vida. O homem que ousa desperdiçar uma hora do tempo está se intoxicando com desordens mentais. É tudo verdade, desperdiçar o tempo é o nosso pecado predileto.

 

Reflexão – Tem homens que teem a estranha capacidade de ignorar a razão. A razão é um divisor de águas. Não existe uma vida bela, e nem um mundo perfeito. Mas é nesse imenso oceano vazio, que nós vivemos. É essa a nossa transitoriedade e breve passagem por este mundo. Compete ao ser humano desanestesiar-se para compreender o seu significado e não ‘embaçar o entardecer’. Viver na contramão da vida é contaminar, limitar, comprometer o brilho do poente. Lembre-se desta reflexão de Cícero: “A natureza nos dá a vida, como dinheiro emprestado a juros, sem fixar o dia da restituição”.

Só mais uma coisa, o homem é um projeto que foi feito para dar certo. O ser humano tem vocação para ser como o sol, mas, não exerce esse direito de empenhar-se com mais intensidade no que pensa, fala e faz. O que o homem realiza ainda é insuficiente, principalmente no aspecto moral e espiritual. Com certeza Deus está, na expectativa, vendo tudo o que o homem faz e dizendo:“Você está me dando muito pouco. Eu quero mais de você, muito mais!”

  

Antônio Valdo A. Rodrigues

e-mail: valdo11rodrigues@yahoo.com.br 

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