A voz do afeto

“As coisas mudam no devagar depressa dos tempos”. (Guimarães Rosa)


Eram onze jovens (Rotaract), do Rotary Club de Batatais, SP. Eles estavam reunidos tendo como pauta descobrir uma estratégia eficaz, capaz de sensibilizar as pessoas para haver um pulsar mais forte no coração.

Rapazes e moças participavam acaloradamente do debate expondo seus pontos de vista. Certo momento um dos rapazes disse: “Eu acredito que as pessoas não são más. Elas só estão um pouco perdidas, mas ainda há tempo. Nós podemos sim mexer com a sensibilidade delas”. Logo alguém perguntou: “Mas como seria isso?” E o líder emergencial disse: “Eu explico. Todas as pessoas teem uma reserva de amizade, generosidade, coragem, valor, consciência... Essa linguagem secreta e íntima é a voz do afeto que está adormecida, mas, nós temos como agitar as pessoas para que tenham uma ligação mais eficaz com o amor”.

A essas alturas os colegas já estavam motivados, mas, impacientes... Um jovem mais falante não aguentou e disparou: “Mas como? Fala logo! Você está enrolando e nós estamos muito curiosos. Afinal qual é a tua idéia?” E o líder descreveu: “Nós vamos espalhar pela cidade, em bancos de praças, jardins e outros locais, pequenas almofadas em forma de coração, produzidas manualmente por nós próprios. A cada peça vamos anexar um cartão com a seguinte mensagem: “Pode levar! Entregue para alguém que faça o seu coração pulsar”. No verso do cartão vamos escrever o endereço de nossas redes sociais e quem sabe, possamos atrair novos membros para conhecer melhor o Rotary.

“Amei a idéia! Vai funcionar sim”, disse a rotaractiana Larissa e completou, “tenho até uma mensagem para ser escrita no cartão”. Assim: “O coração é uma roupa que a gente veste por dentro. Tem quem não é criativo e não se preocupa em usar. A maioria não sabe o que vestir. Alguns sabem, mas fingem que não sabem. E tem quem faz questão de nunca usar essa roupa. Tem os que se ajeitam bem com poucas peças. Outros se envolvem tanto que acabam não entendendo nada. Tem gente que estraga todas que usa... E você, com quais roupas do coração se veste?”.

Todos aprovaram aquelas palavras de carinho e poesia. Logo Luiz. Felipe aproveitou a deixa e citou a reflexão: “Existem duas coisas importantes na vida: o motivo e o momento. Você pode ter várias vezes o mesmo motivo, mas você nunca terá o mesmo momento. Aproveite este momento! Ele é seu e da pessoa amada”.

O grupo estava super satisfeito com as possibilidades literárias citadas e Giovanna, tambem deixou a sua colaboração: “Vejam o que eu tenho no meu diário, é de Mário Quintana: “Com o tempo a gente aprende que amadurecer é uma delícia: aguça os gostos, valoriza os abraços, desperta o coração, seleciona as pessoas, inverte as prioridades e percebe que apesar do tempo que passa depressa, a vida está só começando”.

Alexandre, o mais caladão, disse: “Vocês estão complicando com mensagens longas, basta escrever: “Se pintar tristeza, ouça o seu coração”. Vocês não acham que isso é tudo?” E Mateus, o mais experiente da turma, sugeriu que a entrega das “almofadas-coração” fosse feita assim: Um jovem sentaria em um banco do jardim e no momento certo se levantaria deixando a almofada sobre o mesmo. Um colega ficaria à distância, observando a reação da pessoa ao encontrar a almofada. Todos aprovaram e começaram a planejar os detalhes para a execução imediata do projeto.

A vida é assim mesmo, você não precisa de resultados para acreditar no amor. Você precisa acreditar no amor para conseguir resultados e isso exige um pouco mais de sagacidade. Sagacidade é agudeza e penetralidade espiritual. Deus se agrada com tudo o que é feito com propósito e comprometimento estável. Essa é a arte de estar sempre flertando com a vida.


Reflexão – A gente não conhece o amor, só faz de conta que conhece. A gente ouve falar de tudo, mas, não aprende nada, o que é muito pior... A prova disso é que nascemos sem trazer nada, morremos sem levar nada. E no meio disso tudo, quando deveríamos exercitar fortemente o amor, lutamos por algo que não trouxemos e nem levaremos... Burrinhos é o que somos!

Tambem é relevante saber que o amor não tem créditos autorais. O único crédito que ele exige é a nossa ligação com o divino. Ele sempre vem a nós espontaneamente. Podemos apenas preparar o caminho, mas ele caminha por si mesmo.

Aqui é imprescindível lembrar que o amor é uma decisão. Não é apenas um sentimento. O sentimento pode se enfraquecer, a decisão não. Se o amor só fosse emoção ele não seria o principal mandamento: “Amai-vos uns...”


Antônio Valdo A. Rodrigues
Clima Bebedouro

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