“Para onde vão nossos silêncios quando deixamos de dizer o que sentimos?”. (Mário Quintana)
Tem uma hora que você percebe que o tempo passa e passa depressa na sua frente. E como um vampiro vai sugando a sua alegria de viver e ficam recordações. A vida é assim mesmo, um mistério mágico com grandes oportunidades, mas, outras vezes nem tanto. Mas afinal, aonde nós vamos indo? Por quê agimos de moto tão diferente do que deveríamos? Rubem Alves faz uma interessante análise desse período da vida, aquele que vem depois dos 50.
Depois dos 50, você descobre que o amor é adolescente, irracional e inconsequente. E que chorar faz bem, hidrata o coração! Descobre que o espelho do banheiro começa a mostrar a neve do cabelo! É o tempo que escoa feito areia entre os dedos! Descobre que a solidão de uma casa de três quartos é a mesma solidão de que a casa de uma meia água!
Depois dos 50, descobre que a televisão é chata, que o trânsito é problema e que o celular incomoda. Descobre que não devemos brigar por pequenas coisas, tem coisas que são pequenas demais. Descobre que as palavras teem muita força, depois fica difícil de apagá-las. Descobre que você não deve guardar ressentimentos, faz mal para você!
Depois dos 50, você descobre que deve pedir desculpas, pedir perdão, você vai se sentir bem por muito pouco. Você descobre que deve doar alguma coisa, mas doar de coração, sem nada em troca! Descobre que a multidão ao seu redor, com egos infláveis, faz você sentir-se só, mas se você tem um amigo você tem um tesouro!
Depois dos 50, você descobre que vai gastar dinheiro com sua saúde, saúde que perdeu justamente para ganhar dinheiro. Você descobre que tem mais passado que futuro e precisa desesperadamente viver o presente. E você vai sentir vontade de voltar no tempo, de misturar-se com as crianças, jogar bola, soltar pipa, andar de bicicleta, mas esse tempo não volta mais e ele passa por nós todos os dias...
Depois dos 50, você descobre que não existe um caminho definido para ser feliz, mas sim estradas diferentes. Tambem percebe que tem gente que é feliz com muito pouco, tem gente que é infeliz tendo tudo. E aos poucos você descobre que nasceu sem nada, brigou por tudo e vai partir de mãos vazias, porque caixão não tem gavetas. E que o solo que pisa hoje, será seu teto amanhã. É exatamente assim a vida. Só depois dos 50, bem depois, você descobre que tudo foi vaidade! Pense nisto.
Sobre as ponderações do escritor podemos entender que o mais importante não é saber o caminho, mas andar no caminho. Observe que estamos falando algo que podemos entender bem. São sentimentos que aos poucos vão sendo construídos: ira, tristeza, medo, ansiedade e principalmente a grandeza de sempre amar. Todos eles podem começar bem pequenos, como uma fagulha, mas quando incontidos ou alimentados podem torna-se um fogo um incêndio florestal, um incrível desadormecer do coração.
Falar de nossas limitações não nos diminui, ao contrário, nos engrandece para que o amanhã tenha mais significado. A verdade é que a vida é um jogo e não se pode ganhar sempre, até porque a fome e necessidade de ser feliz, de amar e ser amado não se satisfaz com migalhas de sentimentos esmolados. Dependendo do que interiormente estamos nos alimentando, nossa alma estará sendo nutrida ou envenenada.
Reflexão – Espero que os leitores não se aborreçam com o fato de encontrarem nesta coluna temas similares, às vezes repetitivos, mas isso faz sentido porque a mudança comportamental, a assimilação eficaz só é possível deste modo, como fruto de experiências internas, silenciosas, repetidas vezes...
Cada pessoa tem seu tempo de aprendizagem e aos poucos vai incorporando mudanças ao seu coerente modo de viver. O importante é acreditar na vanguarda do “ser bom” e não ficar na retaguarda do “ser mau”. O ser mau tambem tem sua evolução, seu tempo, de “ser bom”. É só uma questão de querer mudar a visão equivocada que tem da vida. Quanto aos detalhes, eles vão acontecer naturalmente. O tempo leva, o tempo traz. Sempre o tempo, o “senhor verdade”, deixando bem claro que felizes são aqueles que penetram nas causas do amor. O amor é sempre jovem!
Antônio Valdo A. Rodrigues