“Lapidar, aperfeiçoar a criação de nós próprios. Esse é o grande desafio”. (Charles Chaplin)
Tem pescador que pesca no mar, no rio, no lago... Mas, poderia também pescar no seu interior para obter a boa pescaria de si mesmo. Como assim? Assim, todos nós temos a nossa vivência interior bem represada e guardadinha no consciente e no inconsciente. E não tem como evitar, esse mar é imenso, e repleto de emoções, fatos, acontecimentos, alguns bem resolvidos, outros nem tanto, mas todos eles querendo mexer com a gente ou esperando que a gente mexa com eles. É o que chamamos de passado, mas que insiste em permanecer bem presente em nossas recordações.
Há muito que se falar sobre esse mundo cheio de significado. Vamos começar conhecendo o que o escritor Wagner Costa diz sobre essa realidade que nos obriga a fazer e refazer a vida.
“Existe outro mar, imenso como o mar-oceano. É o mar dentro de mim, morada da minha alma. É o meu mar interior, templo das minhas realizações, frustrações, emoções, fraquezas e infinitos sonhos, fantasias... Esse é o meu refúgio interior onde eu, pescador de mim, encontro os meus verdadeiros pensamentos, meus segredinhos, magia e paixão que dão sabor e razão à vida. É muito bom que eu seja um pescador... Eu, pescador de mim mesmo!”.
Belíssimo! As coisas fluem desse jeito! A pescaria é infinita e gigantesca. Ela tem o propósito de resgatar bons acontecimentos do passado ou tentar compreender as coisas mal resolvidas que são inconscientemente arremessadas nesse mar. É verdade, toda energia de fora é potencializada e se transforma em silenciosa energia interna. Devemos ou não deixar esse silêncio falar?
Quando os acontecimentos são do bem, dizemos que são positivos e enriquecem nosso lastro emocional. Quando os acontecimentos são do mal dizemos que empobrecem a nossa luz espiritual. O detalhe é que nesse mar de venturas e desventuras há um processo digestivo de tudo que internalizamos e o produto final vai indicar o que somos: admirados ou execrados.
Eu, o pescador de mim mesmo! Que demais ouvir a voz do meu interior! Forte motivo que faz a vida ter um pouco mais de sentido principalmente em relação aos momentos que ainda restam para viver.
Então é assim, esse nosso mar interno é uma colcha de retalhos. Cada um tem a sua colcha personalizada e sabe o que deve ou não deve pescar. Quando temos muitos impulsos de revoltada, egoísmo é porque estamos armazenando emoções erradas. O reflexo da nossa mente perturbada acostumada a colecionar peixes indigestos só pode causar má digestão. Quando o volume de sentimentos é organizado, controlado, a mente se torna segura, com as águas calmas propícias à boa pescaria. Neste caso as atitudes são refletidas e não por impulso, e a auto-estima, fica em alta então vai ser fácil encher o balaio de peixes com espécies raras e do bem. O tempo pode revelar-se como um carrasco ou como um serviçal anjo da guarda para que se esteja semeando mais amor, amizade, alegria. É assim o “teu” eu, o “meu” eu. Não temos outra escolha a não ser lapidar, aos poucos, esse eu adormecido que se diz racional, mas está longe de ser uma simplicidade mas com lastro de sabedoria.
Reflexão – No começo pode dar um pouco de trabalho, mas logo nos acostumamos com estes três pilares: estabilidade, legalidade, legitimidade. É possível viver tendo forte parceria com valores, prazeres, deveres, sem perder de vista o significado do que a vida mais precisa: razão, paixão e missão. O resto é fraqueza que passa, é história para contar....
Representa sabedoria ter controle sobre esse nosso mundo interior e não ser governado por ele. Aqui se encaixa perfeitamente esta citação latina: “Non ducor, duco”, o que em bom português seria: “Não sou conduzido, conduzo!”.
A lei é clara: Eu, o pescador de mim mesmo, preciso pescar no meu mundo interior para conhecer-me sempre mais. É desafiante e às vezes pode até incomodar, mas eu ‘pescador de mim’ preciso ser cada vez menos estranho no curso de minha peregrinação.
O cotidiano da vida quer sempre nos surpreender com novas e melhores emoções. O que importa é não desprezar o tempo. Os filósofos insistem em nos dizer que o homem que ousa desperdiçar uma hora do tempo não descobriu o valor da vida... Em outras palavras significa que: “Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos”. A vida não exige muito esforço para entender que o mundo é belo. Exige esforço sim para tornar o mundo belo.
Antônio Valdo A. Rodrigues