Sempre certa

“Que seja feita justiça aos injustiçados e justiça aos injustiçosos”. (Paulo Freire)

Todo homem casado percebe, mais cedo ou mais tarde que a mulher tem sempre razão. Lembro-me de ter lido no vidro traseiro de um automóvel preto, conduzido por uma mulher: “Mulheres são naturalmente líderes! Você está seguindo uma”. Criativa heim?

No convívio diário, às vezes é necessário ser um bom leitor de entrelinhas e bom conhecedor do que vem depois do silencioso três pontinhos para saber interpretar com sabedoria a mulher. Ah, as mulheres... Como ponto de partida vamos conhecer o Desafio de um Bom Marido contado pelo escritor Fernando Veríssimo.

“Minha esposa e eu sempre andamos de mãos dadas... Lindo isso não? Mas tem um detalhe, se eu soltar ela vai direto às compras. Não tenho dúvidas, eu me casei com a senhora Certa. Só não sabia que o primeiro nome dela era: Sempre. O problema é que ela não sabe brincar nem um pouco! Mas tenho que admitir que às vezes eu exagero. Ela perguntou: ‘Querido o que tem na TV?’ Eu disse: ‘Poeira querida!’

A verdade é que, no começo Deus criou o mundo e descansou. Então Ele criou o homem e descansou. Depois Ele criou a mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem, nem o mundo tiveram mais descanso.

Quando o nosso cortador elétrico de grama quebrou, minha mulher ficava sempre cobrando, dando a entender que eu deveria consertá-lo ou providenciar o conserto. Mas eu sempre acabava tendo ‘outra coisa’ para cuidar antes: O trabalho, o carro, o futebol, a pesca, os amigos. Sempre alguma coisa mais importante para mim. Finalmente ela pensou num jeito esperto e diferente para me ‘convencer’. Certo dia ao chegar a casa encontrei-a sentada na grama alta, cortando a grama com tesourinha de unha. Eu olhei em silêncio por um tempo, me emocionei bastante e depois sem nada falar entrei em casa. Em alguns minutos eu voltei com uma escova de dente e lhe entreguei dizendo: ‘Quando você terminar de cortar: a grama, você pode também varrer a nossa calçada’. Depois disso não me lembro de mais nada! Os médicos dizem que eu voltarei a andar, mas mancarei pelo resto da vida! Bem feito! Bateu levou.

O casamento é uma relação entre duas pessoas no qual uma está sempre certa e outra... Bom a outra é o marido. Quem é casado, entende isso direitinho. Quem não é, pode rir enquanto está solteiro”.

A historinha foi só uma desculpa para aliviar o estresse do tema. Agora vamos aproveitar o gancho, deixar os entretantos e encarar os finalmentes. Principalmente no relacionamento conjugal, há um monte de emoções misturadas. É preciso conviver por muito tempo para se entender um pouco. Aliás, é oportuno lembrar que se morre aprendendo. Acontece que ninguém entendeu ainda que o casamento é um comprometimento para fazer dar certo.

Esse é o grande desafio: afinal como convencer o cônjuge em silêncio, sem precisar falar uma única palavra para ele não ser assim tão apegado ao egoísmo, às coisas efêmeras, materiais? O psiquiatra Carl Gustavo Jung é categórico ao afirmar: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, leia muitos livros, mas ao tocar uma alma humana, não seja superior, nem inferior, seja apenas outra alma humana”. Até quando a civilização vai ser um vasto corpo com alma esfacelada, imperfeita que deseja muito acertar, mas na maioria das vezes, erra? E o que família e religiosidade teem a ver com isso?

Reflexão – Por que o homem erra com a mulher certa? Por que a mulher não insiste mais com o homem errado? É porque a sensibilidade é colocada em um segundo plano e eles se preocupam mais em ter razão do que em ser feliz!

Quando a tolerância é grande, nenhum afeto é pequeno. ‘Tudo é crescimento: aprendemos o silêncio com os tagarelas, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos. Alguns fatos podem parecer absurdos, confusos, difíceis, mas jamais devemos ser ingratos com esses professores’.

Então é isso, ninguém vive o amor impunemente. Curtir a vida é também ficar refém de alguém que não é bem como gostaríamos que fosse, até porque nós somos sempre um pouco menos do que pensamos e raramente somos um pouco mais. Na boa, uma oração com fé pode ajudar: “Oh Senhor, ajuda-me a ser o esposo que o Senhor tanto quer que eu seja e eu sei que não sou! Amém”.