Cuidados na saúde mental são apresentados (na íntegra)

Angústia, medo, pânico, ansiedade e estresse estão entre os sintomas que podem ser causados pelo cenário de incertezas provocado pelo novo Coronavírus. Para manter a saúde mental de forma saudável, a psicóloga Carla Spolavori Pessôa apresentou recomendações. 

Além de psicóloga, é pedagoga, especialista em Psicologia Analítico Comportamental, Gestão de Pessoas, Psicopedagogia e Educação Inclusiva. E atua como coordenadora do NIAAP (Núcleo de Inclusão, Acessibilidade e Aprendizagem do Centro Universitário Unifafibe), e conselheira há 6 anos do CMAPDB (Conselho Municipal para Assuntos da Pessoa com Deficiência de Bebedouro). 

A respeito das consequências causadas pelo medo. “O medo tem a função de preservar a vida, porém em excesso pode causar doenças físicas e emocionais. Ele serve para nos preparar para agir diante de uma ameaça, ocorre uma descarga de adrenalina, para que tomamos uma atitude para enfrentar o perigo. Diante do número crescente de mortes no mundo devido o Covid-19, o medo só aumenta cada vez mais. As pessoas ficam desesperadas com a ideia de morrer, de perder familiares e amigos, emprego, não ter condições financeiras para sobreviver e também a privação do contato social. O temor exagerado afeta o sistema imunológico essas sensações podem criar ou piorar doenças psíquicas”, disse Carla.

Recomendações em prol do equilíbrio emocional. “Precisamos identificar nossos sentimentos e falar sobre eles. Não podemos negar o que estamos sentindo ou achar que isso tudo é normal. Algumas dicas são importantes como conversar com outras pessoas sobre seus sentimentos, ajuda a aliviar, criar uma rotina, ter uma dosagem equilibrada de informações confiáveis, manter-se conectado com amigos e parentes pelas redes sociais, praticar exercícios físicos, aproveitar esse tempo para um crescimento pessoal e profissional e fazer adaptações saudáveis para enfrentar esse período”.

Além da angústia, medo, pânico, ansiedade e estresse, outros sintomas compõem o atual período crítico. “A irritabilidade, raiva, agressividade, nervosismo, pessimismo, alteração de humor, tristeza, desesperança, inquietação, distúrbios do sono e apetite. Além das mudanças em nossa rotina, somos obrigados a lidar com esse turbilhão de emoções. Para aliviarmos essas manifestações em nosso emocional, precisamos filtrar as informações que chegam a todo o momento, aceitar a realidade, reconhecer que o isolamento faz parte de um comportamento grupal e que é para o bem de todos. Exercícios de respiração, meditação, uma boa leitura, procurar sentir prazer da sua própria companhia, assistir séries, filmes, lives, cozinhar, organizar a casa, ser solidário, ajudar o outro, ou seja, manter a sua mente conectada com coisas boas. Precisamos cuidar do que a nossa mente está produzindo, muitas vezes são pensamentos distorcidos que não merecem o valor que estamos dando a eles, não podemos reforçar e alimentá-los. Costumo falar para meus pacientes que são “fantasminhas” que nos perturbam, roubando nossa energia e fazendo com que aumente a ansiedade”.

Fake News - Consequências que podem ser provocadas pela disseminação de notícias falsas, e a forma de evita-las. “Precisamos ter cuidados com as mentiras e para não as repassar. Muitas pessoas se aproveitam do momento para criarem notícias bombásticas, sem embasamento científico, tentando se promover, levar vantagem, prejudicar a imagem de alguém ou criar mais pânico em outras pessoas. Essas notícias dificultam o trabalho de orientação das autoridades à população. Precisamos duvidar de fontes desconhecidas e buscar informações com a Organização Mundial de Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde, Ministério da Saúde, secretarias estaduais e municipais. O Ministério da Saúde criou uma página para desmentir os boatos. Estudos mostram que fake news se espalham seis vezes mais rápido que as notícias verdadeiras. Uma notícia falsa pode acabar com a vida de alguém, seja em relação a imagem ou até mesmo causando mortes como os remédios milagrosos”.

Partilhar - Importância de cooperar ao invés de competir. “A competição faz parte da nossa vida, competimos na escola, na família, no mercado de trabalho, nas redes sociais. O que não pode ocorrer é uma competição desmedida, sem limites, trapacear, diminuir o outro. O cooperar tem um legado muito mais benéfico, principalmente neste momento de caos que o mundo se encontra, as mudanças enfrentadas exigem novos comportamentos. Jamais imaginaríamos que algo que começou na China atingiria rapidamente o mundo inteiro, todas as classes sociais. As decisões que tomarmos hoje refletirá no nosso amanhã, a cooperação, o diálogo, a união, e a solidariedade necessitam estar presentes em todas as nações. Está na hora de pensarmos no coletivo afim de conseguirmos superar os efeitos da pandemia. Hoje não temos respostas sobre o nosso futuro, a saúde, economia, educação, espiritualidade, relações afetivas, formam um grande ponto de interrogação em nossas mentes. O que não podemos deixar é que o egoísmo, a luta pelo poder, jogadas políticas acabem com nossos sonhos. Precisamos aproveitar essa chance que a dor está nos proporcionando para sermos seres humanos mais empáticos e solidários”.

Ignorar - No que tange ao falar e agir de quem a existência dessa pandemia. “Muitas pessoas parecem não acreditar na doença e continuam vivendo normalmente. Segundo a psicanálise, existe uma negação inconsciente, uma defesa para o ego, e acreditam que nada vai acontecer, um mecanismo para preservar o ‘eu’. Especialistas falam que a concepção do real acontecerá somente quando atingir pessoas próximas. Precisamos ter consciência que esse comportamento de negação pode acarretar danos sérios colocando a sua vida em risco, bem como a do outro. Precisamos seguir todas às orientações repassadas, evitando assim a morte incalculável de pessoas”.

 

Afeto - O jeito de lidar com crianças, idosos e pessoas com deficiência no lar. “Muito importante que todos saibam o que está acontecendo no mundo, com informações claras sobre a pandemia, tendo um diálogo adequado com cada idade e entendimento. As famílias precisam de uma nova reestruturação na rotina, cuidando para que os prejuízos causados não sejam tão graves. O isolamento social é fundamental para evitar o risco à saúde de pessoas vulneráveis ao Coronavírus. O cuidado, o amor, seguir as orientações dos órgãos responsáveis é de extrema importância para que cada um consiga vencer esse período de maneira mais saudável e equilibrada. Manter rotinas, tarefas regulares, criar novos hábitos, estimular a criatividade, se exercitar, ter uma alimentação adequada, continuar com os atendimentos especializados mesmo à distância, ajudam no desenvolvimento de cada indivíduo.  As atividades saudáveis e um ambiente acolhedor diminui a ansiedade e estresse”.

Atendimentos - Sobre a atuação do profissional da classe na atualidade. “Aos poucos estamos retornando aos atendimentos presenciais com todos os cuidados e seguindo todas às recomendações vigentes. As pessoas que fazem parte do grupo de risco devem continuar com os atendimentos online, preservando a sua saúde e permanecendo em casa. Nos atendimentos presenciais, recomenda-se locais ventilados, não fechados, que permitam manter a distância de um a dois metros entre as pessoas, fazendo uso de máscara, álcool gel e limpeza do local. Os profissionais precisam ficar atentos as recomendações do seu CRP, Conselho Regional de Psicologia, pois estão seguindo as orientações específicas do estado e região em relação às medidas de prevenção”.

Na questão online. “Contamos com a tecnologia a favor da saúde por meio da psicoterapia online. A Resolução CFP 11\2018, que atualiza a Resolução 11\2012, amplia as possibilidades de oferta de serviços de Psicologia mediados por TICs, Tecnologia da Informação e Comunicação. Os atendimentos online facilitam o atendimento em qualquer parte do mundo. Muitas pessoas têm se adaptado a esse tipo de atendimento, obtendo excelentes resultados em seus tratamentos. O profissional precisa de alguns cuidados, como a organização dos prontuários dos pacientes, manter qualidade e ética nos atendimentos. As sessões podem ser realizadas pelo Skype, Hangout, WhatsApp, entre outros aplicativos. As ferramentas utilizadas são muito importantes para a garantia do sigilo das informações trocadas, como por exemplo, criptografia de dados, qual antivírus e Antispyware.  Precauções e procedimentos técnicos são de extrema necessidade, a fim de reduzir a vulnerabilidade que o meio eletrônico de comunicação pode apresentar. Os atendimentos a menores de idade podem ser realizados somente com o consentimento e autorização do responsável. É importante repassar as recomendações aos pacientes de manter a sessão em sigilo, escolher um ambiente seguro e tranquilo, para que a sessão não seja interrompida ou ouvida por outras pessoas”.  

Importância de buscar ajuda profissional. “Em tempos de pandemia várias pessoas começaram a apresentar ou pioraram os sintomas de ansiedade, medo, insegurança e pânico. Poucas pessoas procuram ajuda de profissionais para lidar com questões de saúde mental. Por exemplo, quando a ansiedade deixa de ser normal e passa a ser patológica, não tendo o controle, causando sofrimento, interferindo na qualidade de vida, no desempenho familiar, social e profissional, se faz necessário procurar ajuda de um psiquiatra e psicólogo para uma avaliação. Para um diagnóstico de Transtorno de Ansiedade, de acordo com o DSM, Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a ansiedade e preocupação deve estar presente na maioria dos dias por pelo seis meses, e apresentar três ou mais de seis sintomas como inquietação, fadiga, dificuldade para concentrar-se, sensações de branco na mente, irritabilidade, tensão muscular e perturbação do sono”. 

Carla enfatizou que como qualquer outra doença, os transtornos mentais são tratáveis e quanto mais cedo diagnosticado, mais rápido serão as intervenções necessárias, psicoterápicas e quando necessário, as medicamentosas. “Muitos passam a vida inteira sofrendo devido a questões internas, emocionais, psicológicas ou comportamentais, sem o acompanhamento devido. Ainda existe o preconceito para a procura desses profissionais, muitos tendo uma ideia distorcida de que é para gente louca, fraca de caráter, falta do que fazer, falta de fé. A terapia também serve para quem busca uma melhora no seu potencial, autoconhecimento e novas habilidades. Vencer os preconceitos e buscar ajuda é a melhor forma de recuperar o bem-estar e a qualidade de vida”.

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