Não é falta de concentração, é excesso de estimulação

 

Agora a moda é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, o famoso TDAH. A criança que não consegue ficar 50 minutos sentada estudando tem TDAH. Na escola, precisa ser quieta e focada para aprender todo o conteúdo teórico dos livros didáticos com professores sem didática alguma para ensinar as crianças na prática por meio de atividades lúdicas. Mas essa quietude faz parte da infância?

Agora a moda é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, o famoso TDAH. A criança que não consegue ficar 50 minutos sentada estudando tem TDAH. Na escola, precisa ser quieta e focada para aprender todo o conteúdo teórico dos livros didáticos com professores sem didática alguma para ensinar as crianças na prática por meio de atividades lúdicas. Mas essa quietude faz parte da infância?

A criança é um ser em desenvolvimento psicomotor e necessita do movimento, da convivência, da brincadeira. Crianças nascem praticamente já sabendo mexer no celular. Aos cinco anos já falam português, inglês e espanhol. Aos dez, têm a agenda mais cheia que um adulto; escola, aula de inglês, natação, judô, aulas de reforço escolar, hora cronometrada para as refeições e para o lazer (isso é, se sobrar tempo para este).

Com tantos estímulos, as crianças não têm tempo de se concentrar e produzir conhecimento. Memorizam apenas fragmentos de informações diversas para dar conta de tantas responsabilidades. Estamos enlouquecendo as crianças (?) Com toda essa estimulação é difícil focar em algo específico durante muito tempo, ainda mais durante essa fase do desenvolvimento.

Mas é mais fácil enquadrá-las em um transtorno do que mudarmos o ritmo de vida. Aprendemos que “o ócio é oficina do diabo”, então criamos compromissos diversos para mantermo-nos ocupados, mas não necessariamente produtivos, quando na verdade, é no silêncio da reflexão que surgem as melhores ideias.

Estamos acabando com o bem mais precioso: a criatividade. Ao definir compromissos em horários cronometrados, não damos espaço para a criança brincar e consequentemente, criar. A concentração em uma simples brincadeira de bonecas, crianças inventam histórias e definem papéis, criando um universo lúdico. Ao jogar um jogo de tabuleiro, crianças podem aprender matemática simplesmente contando quantas casas devem mover suas peças. É necessário mais prática, menos teoria.

Os pequenos terão muito tempo para concentrarem-se em fórmulas e debruçarem-se em livros de ciências. Daqui a pouco já serão jovens adultos com suas agendas lotadas de reuniões de trabalho e compromissos “sócio-econômico-culturais”. Limitar a criatividade e estimular demasiadamente o controle em uma fase de desenvolvimento da criança a torna um adulto estressado e infeliz. Não patologize uma criança com TDAH, quando ela está apenas vivenciando sua infância.

Para dúvidas, críticas e sugestões, escrevam para: renataseren@gmail.com


Psicóloga - Renata Seren
Clima Bebedouro

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