Vários pontos

A mala é um acessório onde se acondicionam algumas coisas do presente que carregamos para o futuro. As roupas, entre elas. O jeito de ser e os sonhos das crianças, ilustrados por outros pertences dentro dela, inclusive. Quando se chega lá, o conteúdo da mala, o jeito de ser das crianças e os sonhos estarão ultrapassados. No final das contas, é isso que o futuro propõe. Aí, então, você tem de ser outra pessoa. Caso a infância ainda viva dentro de você, não acho razoável olhar além. Pra quê?


As crianças acreditavam que seria sempre assim, mas nunca mais encontraram sabor igual.


Nas aulas sobre Folclore, aos meninos e meninas sussurravam: “O Saci só tem uma perna, perdeu a outra numa luta de capoeira. Vive pelado, deve passar frio.”
A perna amputada – característica marcante do visual do Saci Pererê – é tudo o que uma criança não deseja.


Entre os sonhos de uma criança, a música está entre eles. A maioria das delas já se imaginou um cantor ou cantora famosos. Mas, muitas vezes, é a vida quem desafina e elas – para se fazerem ouvir - têm de "tocar" esse instrumento da sobrevivência, a vida.


0 cansaço do trabalho na infância constrói um caráter que permitirá ao futuro adulto descansar nos ombros da paz e da honradez. Desde que não sejam trabalhos forçados.

Existe uma imagem digital que mostra um menino negro sob o sol, talvez africano, com uma pequena ovelha nos braços. Ele é um pequeno pastor e, com certeza, sem as sandálias dos pastores bíblicos. Portanto, descalço.

Nada se sobrepõe à preocupação de sua expressão fisionômica em proteger a ovelhinha. Esta exibe um olhar doce, peculiar da paz dos protegidos. Nem mesmo o avião de caça - predador de vidas humanas - sobrevoando sua região, municiado com mísseis e, quem sabe, batizado de “Herodes”. É comum os pilotos batizarem suas máquinas mortíferas com nomes fortes.

Que bom se o avião de caça carregasse a Paz, a exemplo do menino pastor que, impotente diante do poder que esmaga seu país, agasalha nos braços cheios de humanidade a ovelha que se entrega à pureza do abraço protetor.

Seria Natal? Não sei. Mas o menino nos lembra da sacralidade do Natal. A maneira como vive e procede é a mesma  de alguns personagens natalinos, os pastores.

No próximo Natal, caso esteja vivo, ele estará novamente no cenário  semelhante ao presépio. Mas outro menino, o sírio Aylan Shenu que, aos três anos – fugindo da guerra - morreu afogado no mar Egeu (Síria), nunca mais estará em seu habitat natalino.  Apesar disso, a grandeza dele e da dimensão simbólica que passa a representar não couberam naquele mar que, envergonhado, o devolveu a terra firme.


O pneu pendurado ao galho de uma árvore serve de balanço. O menino debruçado sobre o arco da circunferência interna, local apropriado para as nádegas de quem balança, sente-se acima do mundo, do mundo mesmo. Nessa coreografia, prescreve uma espécie de Decálogo ao seu cãozinho, o Moshe.  Sentado e com a cabeça erguida, o animal olha para o garoto. Este, em sua inocência, tem certeza de que o bichinho não transgredirá o Decálogo. A transgressão é, então, exclusividade do ser humano.


Dê um rosto aos seus sonhos e sumiço aos pesadelos

Minha intuição chorou quando, na adolescência, fiz a última farra debaixo da chuva. Anos depois, chegariam algumas chuvas de confete. Mas nem sempre chove assim, são comuns chuvas de pedras pelos caminhos da vida. 

Os tênis de lona dos velhos tempos: sujos, irreverentes - presentes na biografia afetiva da fase adolescente de muitas pessoas - já pisaram, nem sempre na condição de novos, em chãos sofisticados. E incomodaram.


O meu quarto de solteiro sempre foi um local simples. Eu gostava de dormir com dois travesseiros; num deles, repousava a cabeça; no outro, abraçava os meus sonhos: ora com os braços, ora com as pernas. Nesse quarto, idealizei vivências futuras cheias de glamour. No entanto, nelas, eu percebi que a vida nunca me tratou tão bem como na época do meu quarto de solteiro.


Em suas andanças, qualquer adolescente se depara com cenas assim: do Subúrbio à Zona Sul, a sensualidade passa por todas as classes sociais. O que muda é a grife.


Textos registrado na Agência Brasileira do ISBN (International Standard Book Number)

Ministério da Cultura - Fundação Biblioteca Nacional, sob número 978-85-63853-54-7. 


Augusto Aguiar

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