A aparência e nossa responsabilidade

Quando contemplamos uma frondosa árvore, seja ela frutífera ou não, o que mais nos chama a atenção? A robustez do seu tronco, a circunferência de sua copa com suas flores e frutos ou a qualidade e a fortaleza de suas raízes?

Quando responsáveis e entendedores erradicam uma árvore “aparentemente” saudável, a justificativa é sempre a de que as raízes estão comprometidas e, portanto, a árvore precisa ser cortada.

As conquistas tecnológicas da civilização nos deram a sensação de termos domado definitivamente os humores da natureza. A calefação dos países de clima frio, o ar condicionado nos trópicos, as obras contra enchentes nas metrópoles, a irrigação de terras áridas em clima de deserto e a melhoria no grau de acerto das previsões meteorológicas – a soma de tudo isso deu ao homo sapiens a arrogância típica dos dominadores. De tempos em tempos, porém, o mundo natural nos lembra de nossa imensa fragilidade. São momentos em que as populações se curvam diante das “forças colossais da natureza”, que o célebre historiador francês, Fernand Braudel, morto em 1985, via como vetores de insurreições populares mais fortes do que as ideologias revolucionárias. Nos Estados Unidos, no ano passado, bolsão furioso de gelo e vento imobilizou em casa dezenas de milhões de americanos por vários dias. Em 2012, o furacão Sandy matou 53 pessoas em Nova York, fechou a bolsa de valores por dois dias seguidos e causou prejuízo econômico de mais de 10 bilhões de dólares.O sentimento natural nessas ocasiões é de indignação e revolta.

Observando a realidade da natureza e suas manifestações, quase sempre nos equivocamos quanto à origem do fenômeno e a solução do problema.

Mas a causa desses fenômenos é somente da natureza ou somente de Deus? Nós, cidadãos, e governos em todos os níveis não temos nada a ver com isso? As autoridades também não têm sua parcela de culpa?

Quem já sofre e sofrerá seus efeitos geralmente corre a buscar “culpados”. Mas, se não há como negar que boa parte da questão se deve à falta de planejamento, à inação, à incompetência e à corrupção dos governantes, a indignação e a revolta não serão suficientes. O momento é muito mais paratolerância por parte de alguns, cooperação e engenhosidade individual, de modo que, coletivamente, atravessemos esse “caos” em que se encontra a sociedade brasileira.

O tempo não é apenas de manifestações ou panelaços em vista de “caçar”culpados e corruptos, mas também de conscientizar-nos de nossa responsabilidade pessoal e comunitária.

Vamos quebrar esse “círculo vicioso” que se arrastahá tanto tempo sem que tenhamos uma atitude concreta, possível, viável? Logo teremos novamente “eleições” em todos os níveis... Pra quê? Já não está passando da hora de fazermos “valer” nosso poder de “voto consciente” e mudar a situação?

 

Cônego Pedro Paulo Scannavino

Paróquia São João Batista

Clima Bebedouro

FCTV Web