Amadurecimento e melhor visão da realidade

Há situações que só com o passar do tempo vão sendo esclarecidas e mais profundamente compreendidas.
Se me permite, caro leitor, vou lhe fazer um questionamento: Você é amigo e tem amigos verdadeiros? Em que nos baseamos para definir a verdadeira amizade? O amor ou amizade autêntica pode deixar de existir com o decorrer do tempo? Por que será que durante muito tempo tivemos alguém como grande amigo e o achávamos até mais querido do que nossos próprios irmãos de sangue e, posteriormente, passamos a considerá-lo com indiferença e até o descartamos?
Alguns me responderiam: “A vida é assim mesmo... A fila anda... Tudo passa...”.
Não acredito nessa resposta!
Será que esse amor ou amizade estaria baseado na “pessoa” ou o meu interesse seria apenas a sua utilidade, que me beneficiaria? Enquanto a pessoa me é útil e sempre concorda com o que falo e faço a considero “amiga”. Porém, se deixou de ser útil e de me satisfazer... já era! Nesse caso, por incrível que possa parecer, não é a “pessoa” que está em jogo, mas a sua “utilidade”.
Não nos iludamos! O autêntico amor ou amizade se baseia na “pessoa” e não na sua “utilidade” ou conveniência!
Felizes aqueles que, apesar de suas limitações de saúde e idade, podem escutar com toda sinceridade de coração: “Apesar da sua inutilidade e limitações, eu o amo!”. É o momento em que vamos ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade. Porque só nos ama aquele que, depois que passar a nossa utilidade e descobrir o nosso significado como pessoa, vai ficar até o fim conosco.
Por isso, eu sempre peço a Deus, em oração, a graça de poder envelhecer ao lado das pessoas que me amam, aquelas pessoas que poderão me proporcionar a tranquilidade de ser “inútil”, mas, ao mesmo tempo, sem perder o meu valor como pessoa. Quero ter ao meu lado alguém que saiba acolher e respeitar minha inutilidade, alguém que, olhando para mim, saiba que eu não servirei para muita coisa, mas que continuarei tendo o meu valor, porque a vida a vida de todos é assim.
Se você quiser saber se o outro o ama de verdade, é só identificar se ele seria capaz de tolerar sua “inutilidade”.
Quer saber se você ama alguém? Pergunte a si mesmo quem nessa vida já pode ficar inútil, sem que você sinta o desejo de jogá-lo fora.
É assim que descobrimos o significado do amor. Só o amor nos dá condições de “cuidar” do outro até o fim. Por isso, eu digo que são felizes aqueles que têm, ao final da vida, a graça de ser olhado nos olhos e de ouvir do outro: “Você não me serve pra nada, mas eu não sei viver sem você!”.

Cônego Pedro Paulo Scannavino
Paróquia São João Batista

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