Os grisalhos

 “É tão fácil ficar velho. Nem sequer é preciso tempo nem idade. Basta não ter vontade de acordar”. (Mia Couto)

 

Tempus Fugit – Sim é verdade, o tempo foge sem parar, e nós só vamos perceber isso direitinho quando os cabelos começam a ficar grisalhos. Grisalho é o que tem os cabelos brancos, mesclados, acinzentado. Os fios vão encanecendo, trazendo a distribuição capilar escassa. E o ser humano agora é mais experiência, e menos ilusão. Onde há grisalhos existe a calma que observa e a alma que absorve o valor da vida.

Gotas de esperança – Neste mundo louco, nenhum de nós tem a mente completamente sadia para saber lidar com desejo, prazer, emoções... Emoções, prazer? O grisalho tem mais obstáculos que essas coisas! Não adianta querer disfarçar, o ancião hoje, não é o mesmo de ontem e não sabe como vai ser o seu amanhã. Entenda por ancião, oitenta anos. O problema não é envelhecer, o problema é ter sido jovem...

Tudo mudou – Agora nada mais está como estava. A saúde, a expectativa de vida é outra. Não existe velhice funcional, prática e muitas vezes é inoperante. O

grisalho se surpreende vendo, com nostalgia, a vida passar. Ele é mais melancolia que alegria. ‘Mas, como isso foi acontecer? Mas, aconteceu: envelheci!’ E onde estão os sonhos, esperanças, saúde, família, dinheiro, Deus? Foram tantas as realizações, mas, ficaram no esquecimento... Será que agora tenho que acreditar que as dores, noites mal dormidas, horas intranquilas de mal-estar vão me fortalecer? Essa não! Só mesmo Deus na causa! Quem pensa o contrário está desinformado ou quer desinformar.

Ritos de passagem – Mais um aniversário que tristeza! Que presepada! Mais uma vez, velas acesas, para logo serem apagadas e deixadas no esquecimento, sem função, sem graça, sem luz... Não deveria ser assim! Por que apagar as velas? Seria melhor vê-las acesas se consumindo naturalmente, assim como a nossa vida. O fim é inevitável, mas é fundamental se consumir iluminando. A luz é o fundamento do amor. Ausência de luz é ausência de graça e paz. Eu não sei por que a gente envelhece se não sai da mente os tempos de criança!

Janela da vida – Agora o ancião contempla o espetáculo da vida. E o quê vê? Um aglomerado de ‘homo sapiens’ dominando ‘tecnologias’ e deixando de lado, olvidando ‘sensibilidades’. E o mais grave, tem dificuldades para enxergar Jesus como o homem mais sábio, e amado da história, mesmo assim, acostuma-se a ficar refém deste mundo enganoso, ilusório.

Milagre do amanhã- Que milagre? O poder da ação... Que ação é essa? O corpo fica pesado, os pés se arrastam deslizando ocasionando quedas. Os movimentos já não são os mesmos, não obedecem com rapidez às ordens. A mente começa a apresentar esquecimentos sinalizando que pode ser Alzheimer. Essa é a vida por trás dos cabelos brancos. Ah, em tempo, o grisalho não sabe nem mais beijar. Beijo agora é só, rostinho no rostinho, e olhe lá. Isso é quase tudo. O grisalho se acha um ser fora do ‘seu tempo’. Alguns tentam resgatar a auto-estima nos bailinhos da melhor idade. Melhor idade? Ah, pula essa!

Prisioneiros dos anos – O idoso sabe que o bom combate está próximo do fim e não adianta querer driblar a morte. Que paradoxo, ir à busca da tecnologia para aumentar a longevidade, e depois não encontrar caminhos seguros para a qualidade de vida...

Prevenção – O papel da medicina não é curar doentes, é antecipar-se às doenças. Os currículos escolares também deveriam dar ênfase à vida em família, inclusive ensinando caminhos para, no entardecer da vida, o senil ser receptivo ao passar dos anos. É verdadeira esta máxima: ‘É melhor prevenir que remediar’. O professor poderia, alem de transmitir informações tecnológicas, também atuar como mentor, facilitador à idade anciã. Velhice, apesar de você, vamos em frente! Você não existe para ser mudada, existe para nos mudar.

 

Reflexão – Cabelos brancos falam com clareza: ‘Cada idade tem seu prazer e sua dor’. Sendo jovem, não queira amadurecer depressa, respeite as etapas da vida. Sendo maduro, não insista em rejuvenescer, seu momento já passou! Sendo grisalho, não se desespere, sirva de exemplo, seja digno. E se tudo isso acontecer, não tenha mais nada a desejar. Pode até pensar... ‘Já não serei feliz, talvez não importe. Há tantas outras coisas na vida...’

 

Nota – Não existe uma velhice igual à outra. O ancião é sempre uma mensagem viva de que Deus não perdeu ainda a esperança na sensibilidade dos homens.

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