O fio cortado

“São necessários sessenta anos e não nove meses para fazer um homem”. (André Malraux)


Todo mundo quer viver muito tempo, talvez fazer da vida uma obra de arte, mas ninguém quer ser velho. Mas ser velho, bem, vamos ver isso de perto...

Podemos acreditar que há dentro de nós segredos e muitos. Todos eles são como fios ligando a nossa vida material carnal com a nossa vida espiritual. Esses fios não podem ser cortados mesmo que um dia a nossa posição física no mundo, mude de ‘vertical móvel’, para a ‘horizontal imóvel’. Sobre esta mudança, podemos acreditar que a morte não é nada. Abaixo um depoimento para nossa reflexão:


“A morte não é nada, eu somente passei para o outro lado do caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Me deem o nome que vocês sempre me deram, lembre-se de mim, como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, e eu estou vivendo no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Sorriam, pensem em mim. Rezem pra que Deus nos console. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem mentiras, traço de sombra ou tristeza, A vida significa tudo o que ela sempre significou. O ‘fio não foi cortado’. Por quê eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho, mas nós estamos todos caminhando. Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, questionativa, livre e bela como sempre foi: coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e coisas fracas do mundo para envergonhar os fortes”. (Santo Agostinho)


Disto nós vamos nos lembrar constantemente que a vida desde o início, sempre está conectada com a vida desde o fim. Apenas mudam as circunstâncias. Antes a materialidade era quase tudo, agora é a certeza que a espiritualidade é tudo!

Sessenta, setenta, oitenta anos... É o tempo passando dando dimensão às mudanças. Os fios agora tênues, mais fracos, quase que inexistentes. As atitudes menos exigentes com os resultados. A realidade é outra, a santidade de Deus realça mais os pecados do homem.

Genes e memes - “Quando morremos, existem duas coisas que podemos deixar depois de nós: Genes (fita genética); e memes (memória, fatos). Nós fomos construídos como máquinas de genes, criados para passar adiante nossos genes. Mas este aspecto nosso estará esquecido em três gerações.

O seu filho, ou mesmo seu neto, pode apresentar alguma semelhança com você, em traços faciais talvez, no talento para música, na cor dos cabelos. Mas, a cada geração que passa, a contribuição dos seus genes é cortada pela metade. Não demora muito até que chegue a proporções negligenciáveis.

Mas, se você contribuir para a cultura mundial, se tiver uma boa idéia, compor uma melodia, inventar um artefato tecnológico, escrever um poema, isso poderá prosseguir vivendo, incólume, até muito tempo depois que seus genes tiverem se dissolvido no reservatório comum. Nós temos trilhões de genes e apenas como um exemplo, Sócrates pode ou não ter um ou dois genes hoje ainda vivos no mundo, mas quem se importa? “Os feixes de ‘memes’, memória de: Sócrates, Leonardo, Copérnico, Marconi, Shakespeare, continuam vigorosamente ativos e bem presentes entre nós” (Richard Dawkins). Nota de reforço: As heranças filosóficas, científicas, literárias, dispensam os genes.


Reflexão - Quão pouco é preciso para ser feliz: um pouco de luz, fios não cortados, sonhos renovados, flores, plantas, músicas... Sem boa música a vida seria um erro!

E o mais importante, amor, muito amor... O amor tem que ser eterno ou não é amor! ‘Quem ama zela para que os fios não sejam cortados’, nem antes e nem depois. Quem ama pode carregar décadas vividas de pessoa abatida pelos anos, cabelos brancos, andar lento, mãos trêmulas, infindáveis memórias, todo seu corpo com tantas coisas que o levaram a errar... Tudo isso a espera de quem vem a passos céleres, largos e não pede licença para chegar...

Mas, é melhor assim.

Estender o corpo cansado, sobre a cama, suspirar e deixar que ele durma, mesmo carregando o peso do passado. Talvez agora, com a ansiedade menos intensa, o envelhecer possa progredir sobre a mocidade. Chega de exibir-se e de fabricar ilusões! E esta é a coisa mais incrível do que qualquer coisa já foi.


Antônio Valdo A. Rodrigues
Clima Bebedouro

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